terça-feira, 4 de agosto de 2009

Os companheiros de Ayestaran culpam a repressão e os outros vereadores não aparecem

As ausências, a dor e também a indignação marcaram ontem a sessão plenária extraordinária do Município de Villabona, que expressou a sua solidariedade à família do falecido Remi Ayestaran e denunciou a repressão policial.

Ontem, respirava-se um silêncio profundo, triste e simultaneamente tenso no salão plenário da Câmara Municipal de Villabona. Eram 17h30. Familiares e amigos do vice-presidente Remi Ayestaran foram-se aproximando da sede municipal, em cuja varanda continuava pendurada uma faixa com a mensagem «Remi maite zaitugu» [Remi, gostamos muito de ti]. A dor e a indignação pela morte, na sexta-feira, do vice-presidente da Câmara, de 27 anos, eram palpáveis, sobretudo após o tratamento mediático e as ausências. Às portas da Câmara, moradores pediram a um grupo de jornalistas e operadores de câmara que abandonassem o local. «Onde é que estiveram desde sexta-feira? Onde é que estavam quando houve a conferência de imprensa nesta praça? Têm estado calados e agora vêm à procura do mórbido», afirmaram.

No interior, os cinco vereadores da esquerda abertzale e a fotografia de Ayestaran ocupavam o salão plenário.
Quebrando o silêncio, a autarca, Maixabel Arrieta, deu início à sessão extraordinária, com um único ponto em agenda.

Além de expressar a sua solidariedade e enviar o «mais sentido abraço aos familiares nestes momentos difíceis», a declaração institucional aprovada ontem elogiava «o compromisso de Ayestaran com Villabona, e o seu contributo, tanto no âmbito da Câmara Municipal como fora dela».

Para além disso, denunciou-se «a grave situação de repressão policial e o estado de excepção» que a localidade tem sofrido nos últimos meses, em que «a ocupação, o acosso, a pressão e a violência por parte da Ertzaintza foram o pão nosso de cada dia».
O Município reiterou também o seu compromisso na «continuidade do trabalho em prol de uma verdadeira solução democrática, que só será possível através do diálogo e da negociação».

«O falecimento de Remi foi a última situação grave que a repressão policial que se abate sobre Euskal Herria nos deixou, e que está a atingir proporções inéditas. Exemplos disso são o desaparecimento de Jon Anza, o sequestro de Alain Berastegi, a caça aos presos políticos bascos, a ocupação policial das localidades de Euskal Herria... Esta morte só se pode explicar dentro deste contexto», realça o texto.

O destacamento da Ertzaintza na sexta-feira passada com a desculpa de impedir a habitual concentração em solidariedade com os presos políticos bascos, proibida pela Audiência Nacional espanhola e desconvocada posteriormente, não foi algo de anormal em Villabona. No plenário recordaram a detenção de dois jovens, em Março, e a denúncia de tortura que um deles apresentou, bem como as recentes e constantes incursões policiais na «zona urbana, de cara coberta e armados até aos dentes. Há alguns dias atrás, um jovem de Villabona foi brutalmente espancado por gritar 'Non dago Jon?'. E na sexta-feira fomos testemunhas de uma verdadeira ocupação policial protagonizada por centenas de ertzainas, que tomaram Remi de ponta, o ameaçaram e insultaram, vindo a morrer na sequência disso».

Depois da leitura e da votação da moção, vários habitantes fizeram uso da palavra para perguntar onde estavam os outros vereadores. «Será que se esconderam, ou esqueceram? Não têm pejo nenhum em aprovar moções contra a esquerda abertzale. Se tivessem o mínimo de vergonha, não voltariam a entrar na Câmara Municipal. Afinal, era o Remi, com quem trabalharam». Estes eram alguns dos comentários que reflectiam o mal-estar pela ausência dos cinco vereadores do PNV, um da EB e outro do PSE. De acordo com Arrieta, o representante da EB justificou a sua ausência com o facto de se encontrar fora.
Ao silêncio do início sucedeu-se um aplauso forte e emotivo e o grito unânime de «Remi, maite zaitugu».

Num comunicado enviado à comunicação social cerca de meia hora antes do plenário, o grupo municipal do PNV afirmou que «a dolorosa e repentina morte de Remi não justifica a realização de uma sessão plenária extraordinária. A sua convocatória não nos parece a maneira mais adequada de responder a esta situação, pelo que não estaremos presentes».
«Devemos normalizar a nossa convivência e, como sempre fizemos, queremos defender todos os direitos humanos», sublinharam. Dito isto, reconheceram, «à margem das nossas diferenças, o trabalho realizado por Remi».

Ainara LERTXUNDI

proposta
Durante o plenário realizado ontem, os assistentes avançaram com a proposta da colocação de um monólito no local onde caiu o vereador da esquerda abertzale. Convocaram uma greve para quinta-feira em Villabona e pausas de uma hora em Tolosaldea.
identificações
Efectivos da Ertzaintza identificaram duas pessoas em Trapagaran (Bizkaia) e retiraram vários cartazes em memória do vice-presidente da Câmara de Villabona. Ali, ikurriñas com crepes negros e cartazes com a sua foto continuavam a evocar o que se passou na sexta-feira passada.
aralar
O Aralar pediu à Procuradoria a abertura de uma investigação para «apurar responsabilidades». «Ocorreram uma série de circunstâncias que apontam para uma actuação que não foi correcta nem responsável», salientou numa nota.

O PSE fala de «paranóia»
O incêndio de vários contentores e caixas de Multibanco no domingo à tarde mereceu, isso sim, a condenação por parte do PSE, que os qualificou como «actos de provocação e ódio que reflectem a paranóia dos seus autores».

Notícia completa: Gara