sábado, 1 de agosto de 2009

Operações contra meios de comunicação bascos: o «Egunkaria»


Os acusados no processo Egunkaria pedem à sociedade basca que os apoie

As cinco pessoas que se vão sentar no banco dos réus no âmbito do processo contra o Egunkaria fizeram um apelo à sociedade basca para que "face ao arrastar deste calvário, que dura já há tanto tempo, continue ao nosso lado".

As cinco pessoas que continuam acusadas no processo contra o Euskaldunon Egunkaria - Joan Mari Torrealdai, Martxelo Otamendi, Xabier Oleaga, Txema Auzmendi e Iñaki Uria - estiveram presentes na sexta-feira no Parque Martin Ugalde, em Andoain (Gipuzkoa), para avaliar a decisão da Audiência Nacional espanhola de levar por diante o julgamento. Com eles esteve Pello Zubiria, que foi excluído do processo, tal como Xabier Alegria, que se encontra na prisão em relação com o sumário 18/98.

Torrealdai leu uma declaração na qual não se ocultou que tinham esperanças de que o caso fosse finalmente arquivado e que a decisão do tribunal especial representou um severo contratempo.

Fez referência à audiência oral, que decorreu no dia 23 de Junho no tribunal especial e em que os advogados de defesa «deram uma tremenda lição», de tal forma que até o próprio magistrado da acusação se posicionou a favor do arquivamento definitivo do caso, quando antes tinha pedido apenas o arquivamento provisório. No que se refere à acusação das associações de extrema-direita, recordou que não apresentaram «argumentos sólidos» e que se defenderam do «risco efectivo de arquivamento».

Torrealdai também salientou o facto de que juristas «com uma visão progressista» lhes tenham dito que o caso era «insustentável na jurisprudência democrática». Disse que isso contribuiu para aumentar as suas esperanças, uma vez que todos esses factores constituem «indicadores fiáveis nos regimes democráticos comuns», embora, «pelos vistos, não em Madrid».

As piores previsões
Os acusado lamentaram que as suas «piores previsões se vão cumprindo inexoravelmente» e que, depois de «seis longos e calamitosos anos, queiram agora forçar-nos a agachar no banco dos réus». Acrescentaram que o «cumprimento das piores previsões» os leva a pensar que «haja alguma sentença condenatória» e que, «seja qual for a pena, não será um bom final para o caso Egunkaria», porque «a brutalidade» cometida há seis anos «continua vigente».

«Voltaram-nos a mostrar quem mantém o poder e que o espírito de 2003 permanece pelo menos tão vigente como então, e que ninguém desertou. Que a força da acusação não reside nos argumentos, mas sim no poder», sentenciou Torrealdai na leitura da declaração.

«Sim, somos culpados - assumiram -, e dizemo-lo com orgulho, culpados de dinamizar o euskara, a cultura basca, os meios de comunicação em euskara... mas não somos culpados de pertencer à ETA».

Recordaram ainda que continua aberta a parte económica do processo, onde se pedem as penas de prisão mais elevadas: 184 anos e 235 milhões de euros para os oito processados.

Por tudo isto, apelaram à solidariedade da sociedade basca «que nunca nos abandonou», para que «continue ao nosso lado, especialmente agora, que nos encontramos definitivamente à espera do julgamento. Não sabemos que efeito causará na Audiência Nacional o facto de a sociedade basca manifestar energicamente as suas exigências, mas não o fazer teria um efeito arrasador para o caso».

Manex ALTUNA
Fonte: Gara
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500 anos de repressão sobre o euskara. E mais!?

«Udabarriko lora ederra, non izan zara neguan? Abazuzien bildurragaitik, sarturik lurren barruan.» (versos de uma antiga canção recolhidos por R. M. Azkue (1864-1951), em Zamudio, Bizkaia, EH)

ADENDA: foram-nos feitos alguns reparos a propósito deste vídeo, nomeadamente no que diz respeito ao carácter agressivo de algumas imagens; admitimos que algumas delas possam eventualmente chocar algum leitor e que isso nos tenha escapado, chocados como estamos com o facto de, 500 anos depois da conquista de Nafarroa, nestes tempos tão repletos de "Direitos" e imposições da "Democracia", haver pessoas que defendem e dinamizam o euskara acusadas de integração em grupo "terrorista"; em todo o caso, pedimos desculpa pela falta de aviso.

Quanto ao Unamuno e ao Baroja (outro reparo), não nos parece que se esteja aqui a hipotecar a grandeza filosófica ou literária de qualquer um (e nem nos cabe julgar tal coisa); há múltiplos exemplos de grandezas literárias (alguns deles portugueses) cujos autores deram voz a posicionamentos sociopolíticos francamente reaccionários, nalguns casos mesmo racistas, pelo que, pelo menos em certos casos, talvez seja melhor separar a grandeza da criação... do pensamento cívico; seja como for, note o leitor que não temos de defender qualquer conteúdo de opinião que aqui mostramos a 100% e que não nos sentimos na obrigação de agradar a ninguém; e isso é saudável. Já nos chatearam por publicarmos peças de cultura, sendo isto um "espaço de resistência", e já nos acusaram de só darmos más notícias (facto que talvez encontre justificação na tremenda repressão que existe em Euskal Herria, silenciada noutros meios), e nós continuámos a fazer como bem entendíamos e a ligar à questão principal que aqui nos move: os Bascos, o conflito basco.

Quanto à falta de tradução dos versos recolhidos, total falta nossa, que, como prometemos, aqui corrigimos: «Linda [ederra] flor [lora] da Primavera [udabarriko], onde [non] passaste [izan zara] o Inverno [neguan]? / Escondida [sarturik] debaixo da terra [lurren barruan], com medo [bildurragaitik] do granizo [abazuzien].»