quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O bêbado de Guayaquil


O senhor López sabe, melhor que ninguém, que está hipotecado pela extrema-direita e que, como a realidade se encarrega de o confirmar diariamente, tem de se sujeitar ao que esta ordena

O actual Governo Basco, nos seus primeiros meses de governação, impressionou-me pela sua arrogância. Chama a atenção a insolência de López, que chegou ao cargo pela porta da usurpação; surpreendente a prepotência de uma equipa de governantes a todas as luzes ilegítima. Tanto um como os outros fazem gala num apoio político e numa solidez ética de que carecem. Foi assim que, sem querer, me trouxeram à memória a pitoresca anedota do bêbado de Guayaquil.

Quem escreve estas linhas vivia, naquele tempo, num subúrbio gigantesco daquela cidade portuária. Os poucos candeeiros na rua eram compensados pelos implacáveis mosquitos e os lamaçais escorregadios. Era uma noite de calor sufocante e de chuvas torrenciais que, ao embaterem nas uralitas dos telhados, provocavam um ruído ensurdecedor. Incapaz de conciliar o sono, decidi ir até à janela e contemplar a chuva a cair nas poças duma rua solitária. Na penumbra de uma iluminação muito fraca, observei que um homem avançava com dificuldade. Logo percebi que aos impedimentos colocados pelo pouco asfalto era preciso acrescentar os do muito álcool.

Quis o acaso que, quando o caminhante solitário passava pela minha janela, aparecessem duas sombras vindas de uma outra rua. O que parecia um acaso logo mostrou ser uma tramóia; os dois malandrins aproximaram-se do bêbado, deitaram-no ao chão e começaram a despojá-lo dos seus escassos pertences. Pensei que era preciso e suficiente dar uns berros para impedir o saque. Os ladrões, surpreendidos pela proximidade de um observador com que não contavam, abandonaram a sua presa e correram espavoridos. O bêbado, julgando que tinha sido a sua enérgica reacção a dissuadir os assaltantes, levantou-se todo sujo mas confiante. Perdeu-se atrás deles por uma ruela obscura ameaçando dar-lhes uma lição se os encontrasse.

Confiante está, e em excesso, o actual Governo Basco. Faz gala numa ostentosa prepotência, com que procura encobrir a sua fraqueza. Apresenta como sua uma estratégia que tem outro pai. O PSE converteu-se no executor obediente da «rota» que traçara o desprezível Bush. A história de que o terrorismo é expansivo e global, da guerra preventiva contra o eixo do mal, de que a confrontação não admite outra solução que a derrota do adversário... são a essência do pensamento caduco de um fanático. Doutrina fascista que foi copiada pela Espanha de Aznar e que está a ser executada pelos socialistas com vergonhoso seguidismo. López é devedor do PP na estratégia que segue e no governo que detém. As suas posses, aparentemente imponentes, são o simples exercício do pavoneio; os animais, quando se sentem fracos, enfunam as suas plumagens ou os seus tufos para parecerem mais do que são e intimidar o adversário. O senhor López sabe, melhor que ninguém, que está hipotecado pela extrema-direita e que, como a realidade se encarrega de o confirmar diariamente, tem de se sujeitar ao que esta ordena.

Sem grandes elucubrações, a sabedoria popular apanha-o num dos seus provérbios certeiros: «Diz-me por quem te tomas e dir-te-ei quem não és».

Jesus VALENCIA
educador social

Fonte: Gara