quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Carta aberta aos magistrados espanhóis


Quem aplaude estas detenções não é partidário da paz, antes preferindo a existência da violência armada. É impensável que não se sintam envergonhados pelo facto de em nome da Justiça a ela se faltar perseguindo pessoas pacíficas.

Perante a actual operação policial, o que assina, Alfonso Sastre Salvador, natural de Madrid, de 83 anos de idade, cidadão basco há várias décadas, solicita que vocês façam urgentemente tudo o que puderem para que se desactive e ponha fim à actual operação contra cidadãos bascos, e lhes seja devolvida a liberdade. Também, na presente carta, quer expor-lhes o que se segue:

1.- Que se lhe afigura impensável que não exista entre vós quem esteja em desacordo radical - a começar pelo exercício da sua actividade de juristas, profissionais do Direito - com medidas como esta e não se sintam envergonhados pelo facto de em nome da Justiça a ela se faltar perseguindo pessoas pacíficas, cujo único «delito» é serem patriotas de esquerda e tratarem de se expressar nos campos da política ou do sindicalismo. Nenhum de vós guarda, pelo menos no seu íntimo, este pensamento? Não o posso crer.

2.- Que a existência legal de uma esquerda abertzale (patriótica basca) que não «condene» publicamente a violência armada da ETA não só não implica um apoio a este tipo de luta e à consequente tentativa de a prolongar no tempo como, pelo contrário, é necessária (esta esquerda) para a solução do conflito político, e, assim, para o fim desse tipo de luta (que é uma tragédia muito dolorosa), e para o desejado advento da paz, sendo, como digo, a existência legal desta força política nada menos que uma conditio sine qua non desse feliz advento. Quanto ao mais, o patriotismo basco é uma ideia legítima, ainda que, actualmente, e aqui reside uma chave do conflito, não seja legal, facto em que se baseia e a partir do qual se explica a violência que padecemos.

Para mim, quem aplaude - em muitos casos, fervorosamente - estas detenções não é partidário da paz, antes preferindo a existência da violência armada.

Pelo menos alguns de vós, senhores magistrados, façam o possível para, agora mesmo, suspender a violência que, com estas detenções, se exerce sobre gentes de paz e, seguramente, muito pacientes elas mesmas.

Alfonso SASTRE
escritor
Fonte: Gara