quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Propagar a falsa notícia


Os possíveis pactos e alianças que se começam a perfilar para superar o apartheid político em Euskal Herria causam tanto medo que só podem utilizar o velho recurso da propaganda

A repetição e a semelhança das crónicas políticas relativas às últimas detenções ocorridas em Euskal Herria, por se fazer política, deixa patente a tentativa, por parte de especialistas experimentados na câmara e no papel, de cloroformizar intelectualmente a comunidade. A cópia, a repetição sem dissimulação, a falsidade repetida mil vezes, a propaganda de propagar a falsa notícia são sempre utilizados quando falha a razão. Um exemplo do passado recente.

Inventaram-se as provas para invadir o Iraque governado por um desses ditadores a que os Roosevelt-Kissinger definiam como «o nosso filho da puta», que amamentaram enquanto isso lhes interessou, transformando depois sem escrúpulos todo o país e a sociedade iraquiana num brinquedo estragado. Não alcançaram o obrigatório êxito militar para mitigar a mentira e agora justificam-se com a desculpa de que foram enganados, com todos os seus mortos incluídos. Em cima da mesa e espalhadas pelo deserto estão as cruzes com as estrelas de inocentes cavaleiros e damas da reconquista americana que os seguiram solidariamente, enquanto milhões de cidadãos sem informação secreta, mas inteligentemente informados, lhes davam ânimo para que ficassem em casa a fazer amor.

As mil provas que se escreveram sobre a existência de armas de destruição maciça com fotos falsificadas, com estudos plagiados de estudantes universitários, com documentos secretos inventados, sempre em flagrante contradição com quem verdadeiramente as procurava, transformaram-se em mil mentiras. São mil coices que levou a sociedade que ocupou democraticamente as ruas contra a guerra e que depois devolveu a todos os governantes. A coligação invasora não pôde manejar a grande mentira que sepultou debaixo de uma lápide de críticas os três presidentes dos Açores. Bush, Blair e Aznar são já escória da história. Evidência de outros tempos, que agora entende todo o mundo mundial.

Hoje curiosamente o mecanismo repete-se, porque as mil provas e as mil mentiras que os serviços secretos espanhóis fabricaram para justificar a invasão são do mesmo estilo e calibre das que se apresentaram para redigir a Lei de Partidos espanhola, que deixou uma parte dos bascos sem opção de voto nem representação, e as mesmas provas e mentiras para encarcerar dezenas e dezenas de bascos por fazerem política.

Para justificar a detenção de Arnaldo Otegi apresentaram mil provas, estudos, vídeos e sentenças, de forma a construírem uma montagem política e mediática. Manipularam as mil provas e as mil mentiras para confundir a opinião pública, que, sem relatórios secretos, exige inteligente e pacificamente nas ruas a liberdade e a democracia para todos os bascos, de acordo com uma legitimidade histórica que supera a própria monarquia espanhola.

Com o propósito de enganar, tiraram da manga o truque da correia de transmissão e da cartola o coelho do terrorismo, o mesmo ardil que transformou o Afeganistão e o Iraque em terra queimada e desestabilizada. Milhares e milhares de bascos, num sábado, na Concha, disseram-lhes que estão enganados, como já o tinham dito milhões de manifestantes antes da invasão do Iraque.

Os possíveis pactos e alianças que se começam a perfilar para superar o apartheid político em Euskal Herria causam tanto medo que só podem utilizar o velho recurso da propaganda. E então aparecem no gabinete sinistro plumas ao serviço do regime que escrevem conforme lhes ditam e, fiéis à ideologia de Maquiavel, colocam o seu director acima da salvação da alma, da honra e da sua assinatura, como Soroa bem enxerga com a sua lupa neste periódico, para transformar tudo, tudo, em terrorismo. Fazem propaganda ou, o que é quase a mesma coisa, propagam a mesmo notícia falsa.
Mentem por interesses. Os que se prestam são vítimas de um aproveitamento calculado de todos os recursos conscientes e inconscientes, típico em personagens de fachada com um desejo de notoriedade desmesurada. Estão sempre dispostos a transmitir o que lhes ordenaram porque pensam que é sempre possível encontrar ou fabricar provas. O facto de que os bascos detidos vão para a prisão é a prova da sua culpabilidade.

Estes trabalhadores do gabinete sinistro vivem no imaginário do faccioso de 36 com a sua Espanha una, e compensam a realidade com a mentira. São uma espécie de vencedores mal aconselhados, só querem uma voz e o poder dá-lhes legitimidade para penalizar qualquer ingerência. «A minha honra chama-se fidelidade» era o lema das SS. Rubalcaba e os seus epígonos demonstraram ultimamente que são uma ameaça para os cidadãos que não pensam como eles quando a unidade de Espanha lhes escapa. Temos evidências suficientes nesse sentido, mas a história avança mais depressa do que alguns dirigentes espanhóis gostariam.

Francisco LARRAURI
psicólogo

Fonte: Gara