quinta-feira, 8 de outubro de 2009

«Que ninguém se escude num grupo de incontrolados, vai muito para além disso»


Dani SARALEGI, porta-voz da manifestação de 12 de Outubro, entrevistado por Aritz INTXUSTA

Depois de denunciar um sequestro em que foi interrogado pelas actividades do movimento popular em Iruñea, Dani Saralegi tornou-se uma das vozes que apelam à manifestação em Iruñea no próxima segunda-feira, dia 12. Os convocantes afirmam que «não podemos permanecer impassíveis» perante todas estas agressões e pedem que se faça frente ao «fascismo de ontem e de hoje».

Qual é o objectivo da manifestação do próximo dia 12?
Esta marcha nasce de uma reflexão a que chegou uma série de pessoas que tinham sofrido na própria pele estas agressões fascistas. Uns ataques por parte de indivíduos estruturados e outros alegadamente incontrolados. Mas não são nada de novo nem desconhecido para este povo. Sempre houve agressões, tanto a pessoas físicas como à memória colectiva de todo um povo. Podemos remontar à Guerra Civil, a Franco e ao que chamam transição. Também aos GAL e ao Batallón Vasco Español. É uma mancha que nunca desapareceu e que aumentou nos últimos anos.

Onde se encontra a origem destes últimos ataques de carácter fascista?
No nosso manifesto referimos que os agentes políticos que apoiavam o ideário de Franco a única que fizeram foi adaptar esse discurso à nova situação para esconder o seu pensamento, que é o mesmo de sempre. A sua tíbia reacção perante as últimas agressões procura esvaziar estes ataques de conteúdo. Além disso, actualmente o espectro da esquerda navarra encontra-se dividido. Quando estávamos unidos, a cidadania mobilizava-se para pedir explicações. Agora, a reacção de um sector da esquerda retira estes ataques do contexto.

Que sentido tem agora uma escalada da guerra suja agora?
Gostaríamos de realçar que «casualmente» estas agressões ocorrem sempre quando as possibilidades de uma mudança política e social estão mais perto que nunca. Depois do fracasso da última negociação, os partidos políticos reposicionaram-se, e foi precisamente quem se posicionou claramente a favor da mudança política que se tornou um alvo prioritário destas agressões e ameaças.

Que opina sobre o aparecimento de um grupo como a Falange y Tradición, que afirma que «utilizará os meios que considerar oportunos» para impor o seu ideário?
As agressões que sofremos, tanto de forma individual como a nível colectivo, vão para lá das acções deste grupo. Que ninguém se escude num suposto grupo de incontrolados, porque vai muito para além disso. A origem é muito mais profunda e muitíssimo mais complicada. Na verdade, o Ministério do Interior não disse uma única palavra sobre as acções reivindicadas por este alegado grupo, nem reagiu perante o comunicado que enviaram à comunicação social. Ainda não ouvimos falar da abertura de qualquer investigação, nem ouvimos nada sobre a determinação em encontrar quem está por trás destas ameaças e acções intimidatórias.

Porque consideram que agora é o momento de vir para a rua?
No dia 11 chegam os falangistas a Iruñea e está convocada uma resposta para esse mesmo dia. Mas, com a nossa convocatória, não procuramos uma resposta formal a um acontecimento pontual. Queremos que se converta numa resposta firme dos cidadãos contra o fascismo de ontem e de hoje. Queremos que saibam que os vermelhos separatistas e a esquerda de Nafarroa se posiciona perante estes abusos e dá um passo para a frente. Devemos trabalhar todos para que os fascistas fracassem na sua tentativa de neutralizar a mudança política e social que este povo procura.

O seu apelo dirige-se à cidadania. Não exigem nada às autoridades?
Em primeiro lugar, como é óbvio, exigimos que se esclareçam todos os factos e se atribuam todas as responsabilidades e, naturalmente, que se encontrem os autores. Contudo, o nosso apelo dirige-se expressamente à cidadania. Achamos que é muito mais importante e, na verdade, indispensável, o compromisso dos cidadãos para acabar com elas.

E qual é o compromisso que pedem aos cidadãos?
Ainda não encerrámos a reflexão que fizemos. Na verdade, quero sublinhar que este debate se encontra aberto a todos os cidadãos que queiram aderir e participar nele. Estamos a trabalhar em todos os sectores, desde os colectivos sociais, as fábricas, o movimento popular... Queremos que toda essa gente se comprometa, na medida em que lhe for possível, com esta ideia de mudança política e social que se encontra já em marcha.
Fonte: Gara
------
Leituras relacionadas:
«A Falange y Tradición reabre o debate sobre a impunidade dos fascistas», de Aritz INTXUSTA, em Gara
"O aparecimento de um novo grupo de extrema-direita em Euskal Herria e a facilidade com que cometeram as suas sabotagens e ameaças reabrem o debate sobre a tolerância com estes grupos por parte das Forças de Segurança do Estado. A Falange y Tradición demonstrou ser capaz de actuar desde Tutera até Bilbau, ainda que, até ao momento, o grosso das suas sabotagens e ameaças tenha ocorrido em Nafarroa."