quinta-feira, 15 de julho de 2010

O foguete das festas de Berriozar chega a julgamento «sem base objectiva»


Os vereadores independentistas de Berriozar, julgados na terça-feira na Audiência Nacional espanhola, salientaram que no arranque das festas do ano passado apenas demonstraram o seu carinho aos familiares dos presos. Sobre eles pendem as acusações de levar uma bandeirola ou tocar o txistu [espécie de flauta]; elementos que levam a defesa a criticar a «escassa base objectiva» do caso.

Izaskun Cebrián, Fermín Irigoien e Ezekiel Martín, edis da esquerda abertzale em Berriozar (Nafarroa), sentaram-se na terça-feira no banco dos réus da Audiência Nacional espanhola e podem apanhar 18 meses de prisão e dez anos de inabilitação por causa do lançamento do foguete que marcou o início das festas do ano passado - que delegaram no kiliki negro da agremiação de gigantes e cabeçudos da localidade. O julgamento, que ficou concluso para sentença nesta terça-feira, «nada teve de base objectiva e muito de divagações», de acordo com a defesa dos navarros.

Amaia Izko, que foi a advogada e pediu a livre absolvição dos seus clientes, afirmou em declarações ao Gara que na audiência de terça-feira ficou patente «a vontade de julgar e castigar» estes três vereadores independentistas; «fazem-no custe o que custar», disse.
Considerou o caso como «uma birra política» provocada porque a Câmara Municipal de Berriozar, liderada pelo NaBai, propôs inicialmente que fossem os vereadores da esquerda abertzale, por uma questão de rigoroso respeito pela ordem de lançamento, a lançar o txupin. Neste sentido, Izko afirmou na presença do juiz que os três edis são arguidos porque «há quem não goste do que fazem e não porque tenham cometido qualquer crime».

O crime pelo qual o tribunal de excepção pretende fazer pagar estes três vereadores é de «exaltação do terrorismo», acusação que foi defendida com afinco pelo representante do Ministério Público espanhol.
Contudo, se se vir em detalhe a acusação grandiloquente, deparamos com acusações concretas que, no caso de Ezekiel Martín, não vão além de levar uma bandeirola a favor da repatriação dos presos políticos bascos, bem como entregar posteriormente um lenço e um ramo de flores a um familiar de um preso político do município navarro.

Até à AN por tocar o txistu
Fermín Irigoien, por seu lado, é acusado de tocar o txistu durante a concentração que teve lugar após o txupinazo. A acusação concreta consiste em interpretar um «aurresku de honra» em memória dos habitantes de Berriozar que se encontram presos por motivações políticas.
Os edis não negaram as acusações que pesam sobre eles, mas insistiram na ideia de que o propósito do brinde que se seguiu ao txupinazo era mostrar «o seu carinho e solidariedade aos familiares dos presos políticos bascos em virtude da sua complicada situação».
A Procuradoria, representada por Pedro Rubira, referiu insistentemente como prova da «exaltação à ETA» que no decorrer do txupinazo um edil mantivera o seu braço esquerdo erguido ou que se abraçara ao kiliki negro.

Bandeirola, uma novidade
De acordo com a teoria lançada pela Procuradoria, a tão conhecida bandeirola, que se pode ver há anos nas varandas das casas solicitando a repatriação dos presos bascos, é a sucessora das fotografias dos presos. «Antes utilizavam fotos e anagramas, e agora essas faixas, e também antes admitiam que louvavam os terroristas e agora dizem que é as famílias», protestou Rubira.

O julgamento que ontem decorreu é o último capítulo da campanha de criminalização que UPN e PSN desataram contra os três vereadores da esquerda abertzale faz agora um ano.

Oihana LLORENTE
Notícia completa: Gara