domingo, 17 de outubro de 2010

Arnaldo Otegi afirma: o avanço do processo democrático «depende de nós»

Arnaldo Otegi reafirma a partir da prisão os fundamentos da resolução «Zutik Euskal Herria» aprovada pelas bases da esquerda abertzale e considera «absolutamente superado» o esquema de avançar no processo democrático dependendo de compromissos prévios ou da «confiança em determinado governo». Sustenta que só se conseguirá avançar «se formos capazes de criar as condições necessárias com base na mobilização da sociedade, na cumplicidade da comunidade internacional e na materialização de gestos e acções de carácter unilateral».

Precisamente um ano depois de ter sido encarcerado com mais quatro dirigentes independentistas e de uma manifestação enorme e plural ter percorrido as ruas de Donostia exigindo a sua liberdade, o jornal El País publica uma extensa entrevista com Arnaldo Otegi assinada pelo jornalista John Carlin e realizada através de um questionário, porque o Ministério do Interior proibiu o encontro.

A entrevista centra-se na questão da violência, e Otegi afirma que «a estratégia independentista é incompatível com a violência armada». Aposta no desaparecimento de todas as violências, pelo que pede ao Estado que também aceite que «a utilização da coacção, da tortura, da ilegalização de partidos, do encerramento de meios de comunicação... não podem nem devem fazer parte da sua estratégia para tentar impedir o projecto independentista».

Quando se lhe pergunta o que diria à direcção da ETA, responde que pediria «que decretasse uma trégua unilateral, permanente e verificável pela comunidade internacional, sendo coerente com a caracterização unilateral desta fase do processo, e fazendo eco tanto do pedido expresso na declaração de Bruxelas como do expresso e subscrito pelo conjunto de organizações da esquerda abertzale juntamente com outras forças políticas, sociais e sindicais».

Defende ao mesmo tempo que o Governo espanhol deveria explorar a disposição manifestada pela ETA na sua última entrevista ao abordar a questão dos presos «com urgência e sem estar condicionada pela existência ou não de acordos políticos de carácter resolutivo».

Otegi destaca que, para a sua legalização enquanto partido político, deveria ser exigido à esquerda abertzale o mesmo que a qualquer outra força política, já que outra coisa seria antidemocrática. Mas rejeita a ideia de que a aposta do independentismo seja feita no sentido de se poder apresentar às eleições. Quando é questionado sobre se não estarão condenados a desaparecer caso não consigam a legalização, Arnaldo Otegi afirma: «Definitivamente, não, e a prova mais clara disso é que, após longos anos de perseguição, detenções e ilegalizações, hoje continuamos a estar presentes e, mais ainda, a marcar, em grande medida, a agenda política do nosso país».

Na sua entrevista, Arlando Otegi deixa claro que «a nossa posição relativamente a uma solução pacífica e democrática para o conflito é irreversível e não contemplamos outro horizonte ou hipotéticas circunstâncias que venham fazer alterar esta posição».
Fonte: Gara
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«Entrevista de John Carlin a Arnaldo Otegi» (na íntegra; ezkerabertzalea.info)
John Carlin, escritor britânico, autor de The Human Factor, na impossibilidade de se encontrar com Arnaldo Otegi presencialmente, enviou-lhe um conjunto de questões, a que este respondeu na prisão de Navalcarnero. Uma parte dessa entrevista foi recolhida pelo jornal El País. Aqui, apresenta-se a entrevista na íntegra.