sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Estado francês contra o Batasuna: «Parece que não está ninguém... mas atrás da porta ouve-se a polícia»


Dois jornalistas do GARA aproximam-se da casa de um dos detidos, depois de não lhes ter sido possível confirmar onde se encontram a sua companheira e o filho de ambos. No bairro e nas redondezas nada faz suspeitar que, às 6h00, ocorreu uma detenção.

Não se vêem polícias nem veículos policiais. E a conversa entre dois vizinhos na rua também não dá sinais disso. Ao que parece, nem sequer se aperceberam da operação.

Os dois jornalistas sobem até ao andar onde fica a casa do detido. No corredor, trocam uma saudação com uma vizinha. Tudo parece normal. Tocam à campainha. Ninguém responde... Mas ouvem teclar num computador. Voltam a tocar à campainha. Há barulhos, muito ténues, do outro lado. Depois de tocar à campainha algumas seis vezes, abre-se a porta e aparecem dois homens que se identificam como polícias e que exigem o mesmo a quem se apareceu sem avisar. Estão a inspeccionar a casa com absoluta discrição.

Causa-lhes estranheza que os telemóveis não parem de tocar. O casal que vive na casa explica-lhes que têm aqui muitos amigos e família. Não os deixam atender as chamadas, embora uma amiga tenha tido autorização para levar a criança.

A essa mesma casa chegaram também duas vereadoras da localidade. Protestam pela actuação policial, e uma delas atira à cara do único agente que está encapuzado que é assim que os polícias espanhóis torturam os jovens bascos. Talvez não ande muito longe da verdade, pois os de casa crêem que esse agente, que permanece durante toda a inspecção com o rosto tapado e só fala aos restantes ao ouvido para que não se perceba a sua pronúncia, vem do “outro lado”. As edis vão-se embora, e um dos agentes pergunta se todos os vereadores são tão corajosos nessa localidade. Replicam-lhe que, se voltarem daqui a seis anos, talvez seja o próprio autarca a interpelá-los, pois nessa altura a esquerda abertzale estará no governo municipal. Não são os únicos comentários políticos que se cruzam, dentro da politesse francesa. Mas a coisa não está para debates; é que já lá vão sete horas...

A discrição desaparece em Baiona. Aí, há que inspeccionar a sede do Batasuna, pelo que a presença policial na cidade é mais do que notória, por vezes esmagadora.

Quem dirige as operações repressivas move-se nessa contradição: em certos momentos realizam movimentos bastante sigilosos, e noutros entram como um elefante numa loja de cristais. Há poucos dias fizeram-no em Nafarroa Beherea. Levaram sob detenção pessoas com quase 80 anos, um ex-autarca, um padre... só para os reter durante algumas horas nas esquadras, sem maior transcendência. Para quê? As pessoas da comarca estão pior que estragadas.

Além disso, a imprensa espanhola encarrega-se de agitar o ambiente ao máximo. Grandes títulos, seja lá sobre o que for. Na imprensa francesa, ao invés, silêncio. Não se dá especial relevância à operação contra o Batasuna. Tem lógica: Paris tem com os Bascos um problema de Estado, e por isto actua assim; mas não o quer reconhecer, por isso também o faz pela calada.

Iñaki ALTUNA

Fonte: Gara

Na imagem: a amarelo, os territórios de Iparralde (o lado norte) ou Ipar Euskal Herria


Adenda: Jean-François Lefort, Aurore Martin e Patricia Martinon foram postos em liberdade. São assim sete os militantes independentistas bascos que se encontram em liberdade depois de terem sido detidos na operação policial que incidiu nos territórios de Lapurdi e Nafarroa Beherea (em Iparralde ou Ipar Euskal Herria).