terça-feira, 22 de julho de 2008

Fernand David não era um polícia espanhol

Há alguns dias morreu o comissário Juan Antonio Gil Rubiales, responsável pela detenção e pelas torturas sofridas por Joxe Arregi, em 1981. Foi condenado por esses factos, mas logrou esquivar-se à sua responsabilidade, foi condecorado e premiado, e prosseguiu com a sua carreira. Quando o enterraram, acompanhou o seu féretro uma guarda de honra policial. Gil ingressou na polícia espanhola em 1971, no franquismo. Como todos os outros polícias da ditadura, não teve problemas para se converter em polícia da “democracia”. As forças policiais não foram depuradas, ninguém foi julgado e, claro, todos os crimes do franquismo ficaram impunes.

Um final muito diferente do de Gil Rubiales foi o de Fernand David, o responsável pela primeira Brigada Especial francesa, colaboradora dos ocupantes nazis de Paris. Os seus homens – e ele mesmo de um modo especialmente cruel – espalharam o terror entre os resistentes à invasão. Dizem que até a Gestapo aprendeu com eles técnicas de tortura, algumas das quais aparecem, significativamente, nas denúncias de detidos pelas diferentes polícias espanholas nos últimos anos.

Fernand David não sobreviveu à derrota do nazismo. Não é que a depuração das forças de segurança francesas após a libertação tenha sido perfeita, mas pelo menos chegou a prender, julgar e condenar monstros como David. Foi fuzilado pelos seus crimes, e não houve guarda de honra no seu funeral.

Em vão procura alguém um caso similar ao de David no pós-franquismo espanhol. Mais ainda, os polícias da ditadura que foram atacados por organizações como a ETA são oficialmente considerados “vítimas do terrorismo”. Como o que foi considerado a “eminência cinzenta” do regime, Carrero Blanco, ou o famoso Melitón Manzanas.

Também as autoridades alemãs da França ocupada e os colaboracionistas falavam de terrorismo. Eles eram a lei e prendiam terroristas sanguinários. Os militares alemães mortos pela Resistência eram, desde o seu ponto de vista, vítimas do terrorismo. Em todo o caso, fica claro que, caso tivesse sido um polícia franquista, David nunca teria sido fuzilado.

Floren AOIZ
www.elomendia.com

Fonte: Rebelión