quinta-feira, 3 de julho de 2008

Uma selecção a meias


Um orgasmo nacionalista percorreu como um arrepio a coluna vertebral desse país que chamam Espanha, um nome que não se cansaram de bordar a vermelho e amarelo em cada retransmissão do Europeu que acaba de finalizar. A vitória foi celebrada com um espantoso orgulho pátrio, que transbordou no domingo em todas as cadeias espanholas de rádio e televisão, e que se repetiu como um eco colorido nos periódicos de segunda-feira. E nos de terça. E nos de amanhã e depois de...

Até agora pouco me importava com o que “la roja” fizesse. Mas esta indiferença desapareceu no domingo. Vi a luz, e fico feliz. Sim, feliz pela vitória contra a Alemanha, e não a meio gás, mas inteiramente, por completo, desde as unhas dos pés até aos quatro cabelos do cocuruto. Porque já está, porque aflorou finalmente nos espanhóis o seu nacionalismo, esse sentimento tão humano que negavam possuir e que criminalizavam nos outros. O nacionalismo é mau, diziam-nos, e olhem como de repente rebenta a sua fúria nacionalista na capital do croissant. À Espanha e à não Espanha, fazia-lhes falta uma vitória assim. Só depois dessa catarse nacionalista espanhola, nós, bascos, catalães e outros mais, nos poderemos situar ao mesmo nível sentimental. Talvez agora esses espanhóis que se emocionaram tanto com os êxitos da sua selecção possam compreender que nós, que não participamos do seu sentimento nacional, também queiramos desfrutar do nosso próprio e participar nas competições com as nossas selecções. E não a meio gás, como até agora, mas completamente, em eventos oficiais, como os escoceses ou os galeses ou os ingleses, que não jogam sob a Union Jack britânica, mas defendem a sua própria bandeira sentimental.

Há algum tempo, soltou-se uma pequena polémica nalguns meios de comunicação quando se soube que alguns jogadores da selecção espanhola dobram a parte superior das meias para que não se veja a bandeira espanhola. Está na hora de os espanhóis compreenderem que o que os bascos e catalães querem é uma selecção própria, na qual os seus jogadores, embora nunca cheguem a ganhar um Europeu, pelo menos não dobram o topo das suas meias.

Iñaki LEKUONA

Fonte: Gara

[Ainda sobre o tema, uma outra abordagem:]
«Futebol, Europeus, bascos e espanhóis», de Joseba Macías (Gara)