sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A Euskal Memoria refere mais de 9600 casos de tortura nos últimos 50 anos

A fundação apresenta amanhã uma ampla investigação - intitulada Oso latza izan da [Foi muito duro] - com dados e testemunhos que reflectem a extensão e a profundidade desta prática. Existem apenas 19 sentenças condenatórias realcionadas com tudo isto. [Ver notícia da apresentação mais abaixo.]

Quando a fundação Euskal Memoria começou a documentar o tema da tortura em Euskal Herria nos últimos 50 anos, contava com três queixas de habitantes de Oñati (Gipuzkoa), para citar um exemplo ilustrativo. Os seus colaboradores foram verificá-los e, puxando o fio à meada, afloraram mais 53 testemunhos só nessa localidade. Por isso, o seu terceiro trabalho, que amanhã verá a luz, seguramente não será mais do que a ponta do iceberg de uma realidade que quase nunca foi notícia. E, no entanto, é simultânea e inquestionavelmente o estudo mais amplo, documentado e actualizado sobre este «túnel» do qual «ainda falta trabalho para sair».

O estudo - que se publica com o título Oso latza izan da e estará disponível na Feira de Durango - aborda a tortura de todos os pontos de vista: o que é, quem a praticou, como, a quem, quando, onde, porquê, para quê... Entre os contributos, está a tentativa de contabilizar os casos ocorridos em Euskal Herria. Com uma dificuldade evidente: só nos últimos anos organismos como o Torturaren Aurkako Taldea (TAT) criaram registos e compilaram testemunhos. Por isso, nos anos 60 e 70 há que recorrer a extrapolações a partir dos dados parciais avançados por diversas fontes. Com isto se conclui que entre 1960 e 1977 se registaram cerca de 10 000 detenções políticas em Euskal Herria, 50% a 70% das quais incluíram torturas.

A partir de 1978 já existem balanços oficiais sobre detenções que facilitam o cômputo. Calcula-se que nos dez anos seguintes 7370 bascos foram submetidos a um período de incomunicação e que cerca de 40% sofreram torturas, o que representa mais 3000 casos a juntar aos 5000-7000 anteriores. O TAT começa a publicar informes em 1989 e permite aquilatar já esta cifra. Assim, a Euskal Memoria explica que entre esse ano e 2000 se registam 900 casos, e que neste século se acrescentam mais 733. No total, temos entre 9633 e 11 633.

A fundação sublinha que esta aritmética não serve para «delimitar o sofrimento» causado, mas «torna mais relevante algo que não é reconhecido». Paralelamente, se o número evidencia que a tortura é individual, na medida em que afecta cada um dos torturados, em Euskal Herria «adquire ainda uma dimensão colectiva». E muito extensa. / Ramón SOLA / Ver: Gara

«Apaga la cámara»

Dizia um secretário de Estado espanhol - há cinco anos atrás - ao ser questionado por um jornalista da cadeia australiana SBS sobre torturas a cidadãos bascos.

«Um "oso latza izan da" que atravessa décadas, polícias, governos e leis», de Ramón SOLA (Gara)
O túnel descrito pela Euskal Memoria é uma viagem de 50 anos em que se mudam as formas mas não o fundo. Isto é um resumo acelerado de um tema por vezes impossível de reproduzir, dada a sordidez dos detalhes.

«A EUSKAL MEMORIA APRESENTA Oso latza izan da. La tortura en Euskal Herria, PARA DAR A CONHECER A VERDADE SOBRE A TORTURA» (euskalmemoria.com)
A Euskal Memoria apresentou hoje [dia 1] em Donostia, com a fundação Egiari Zor e o Torturaren Aurkako Taldea, o seu último trabalho monográfico - Oso latza izan da. La tortura en Euskal Herria -, juntamente com 200 cidadãos que foram torturados nas últimas cinco décadas. Um contributo que se baseia no trabalho colectivo e que tem por fito dar a conhecer a verdade sobre a tortura e sobre a impunidade que rodeia esta realidade.


«Indulto para la mitad de los condenados por torturar a vascos», de Iñaki IRIONDO (Gara)
La reacción suscitada entre jueces, políticos y periodistas por el indulto a cuatro mossos d'Esquadra condenados por torturas es novedosa en el Estado español. No porque los indultos a torturadores sean algo nuevo, sino porque hasta la fecha se han cubierto con un espeso manto de silencio.