A propósito das declarações do General Leonel de Carvalho, responsável pelo Gabinete Coordenador de Segurança, sobre a não existência de actividade da ETA em Portugal, "o que não quer dizer que Portugal não tenha acolhido já pessoas ligadas a esse movimento" e a propósito da interpretação do Correio da Manhã de que "civis da ETA" teriam estado no nosso país, a Associação de Solidariedade com Euskal Herria alerta para o perigo de se estar a confundir a ETA com a esquerda independentista. Esta é, aliás, uma prática habitual no sentido de se criarem condições para a ilegalização de todo o movimento independentista.
Esta prática cumpre os requisitos do Plano ZEN (Zona Especial Norte), plano elaborado entre os estrategas dos vários aparelhos do Estado espanhol e que pretende utilizar a comunicação social como instrumento propagandistico e repressivo. Desde então, a imprensa espanhola assume-se como porta-voz da visão espanholista dos vários governos. Usada para denegrir, rotular, confundir e, acima de tudo, veicular o medo e o ódio, pretende criar um estimulo de reacção contra toda a luta do povo basco. A estratégia de mostrar cada independentista basco como um terrorista, como um elemento ligado à ETA (o mal na sua pior versão), é visivel na ilegalização do partido Batasuna, da organização juvenil Segi, da associação anti-repressiva Askatasuna e do jornal Egin, só para se ilustrar com alguns exemplos.
É, portanto, importante que se esclareça que a vinda de qualquer cidadão basco pertencente a estas organizações ou a outras legais não configura qualquer presença de "civis da ETA" ou de civis "ligados a esse movimento". O Correio da Manhã serve muito bem os interesses da imprensa espanhola mas não serve os interesses da população portuguesa, ao provocar o alarmismo não fundamentado. Segue a estratégia do medo e do ódio do Plano ZEN e nunca se preocupou em contextualizar as suas notícias com o que se passa no País Basco nem em mostrar o outro lado envolvido no conflito. A tortura, a prisão arbitrária e a morte praticadas pelo Estado espanhol e o apoio popular ao projecto independentista basco são temas raros ou inexistentes nas folhas do referido jornal.
A Associação de Solidariedade com Euskal Herria tem recebido com grande solidariedade os companheiros independentistas bascos de organizações legais e ilegais. Têm-no feito várias outras organizações e personalidades do nosso país. Gente de partidos, organizações juvenis, associações anti-repressivas, sindicalistas, jornalistas e outros, que vivendo o conflito pretendem furar a censura mediática e mostrar aos portugueses o que se passa no País Basco.
Consideramos que o estatuto de legal ou ilegal não importa quando o aparelho judicial espanhol está comprometido com o aparelho político do Estado que oprime o povo basco. Achamos por isso que os contornos pouco nitidos das declarações do General Leonel de Carvalho e do artigo do CM pretendem quebrar a vontade dos portugueses e organizações que se solidarizam com o povo basco. Tal vontade não será, no entanto, satisfeita. Estamos cientes da força da razão de um povo que sempre soube resistir e que tem direito à autodeterminação, direito democrático consagrado pela ONU e que o tão "democrático" Estado espanhol não aceita.