quinta-feira, 13 de julho de 2006

«Sem diálogo não pode haver paz no País Basco»

Entrevista com Arnaldo Otegi, porta-voz do Batasuna

«O que dá coesão ao movimento independentista de esquerda não é a luta armada da ETA, mas antes um projecto nacional e progressista para o País Basco». As palavras são de Arnaldo Otegui, porta-voz do partido Batasuna, em entrevista concedida ao Avante! a 15 de Junho, em Donostia (San Sebastian, em castelhano), duas semanas antes do presidente do governo espanhol, Rodríguez Zapatero, ter feito saber que vai dialogar com a ETA.

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Em Portugal, sempre que se fala de País Basco, a comunicação social dominante pretende incutir a ideia de que todo o independentista é um terrorista e pertence à ETA. Como vê e o que é, para o Batasuna, a ETA?

Antes de mais, deve-se ter em conta que a ETA é uma organização nascida no País Basco durante a época da ditadura franquista. Através da luta armada contra a ditadura, a ETA criou no nosso país um espaço sociológico e político, dotado com o projecto estratégico de criar um Estado basco, independente e socialista. Podemos, por isso, dizer que a data de nascimento do movimento independentista é a data de nascimento da ETA.
No entanto, embora assim seja, há algo que deve ser sublinhado com clareza: é que existe uma diferença fundamental entre a ETA, que pratica a luta armada, e nós, que, evidentemente não o fazemos.
Por outro lado, embora exista esta coincidência de objectivo, nós somos uma organização política que aglutina uma boa parte da população que pode ou não estar de acordo com a luta armada da ETA. O que dá coesão ao movimento independentista de esquerda deste país não é a luta armada da ETA, mas antes um projecto nacional e progressista para o País Basco.

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Costuma ouvir-se, em Portugal, que o País Basco é espanhol porque apenas 15 por cento da população está com a esquerda independentista. O que pensa deste argumento?

É um argumento absolutamente falso. Podemos dizer que a maioria política, social, sindical e inclusivamente institucional do nosso país está a fazer uma aposta pelos direitos de autodeterminação e de soberania do nosso povo. Mas devemos ter em conta que são 15 por cento os que votam na esquerda independentista, nas condições actuais. Votam, inclusivamente, em situação de ilegalidade. Mas nunca foi feito um referendo sobre a autodeterminação neste país. Sabemos é que, hoje em dia, segundo as sondagens, há entre 30 e 45 por cento de cidadãos que se manifestam como independentistas. Portanto, o problema sobre se o País Basco é ou não Espanha, não depende da percentagem de votos da esquerda independentista. Para nós, é um problema de aritmética democrática. A pergunta que devolvemos é, se estão tão seguros de que nós, os bascos, nos sentimos tão plenamente espanhóis, que problema há em poder admitir um cenário democrático onde os bascos possam decidir se querem ser independentes ou não?

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A ler no jornal «Avante!»