A associação de familiares de represaliados políticos bascos recordou hoje que mais de 2000 cidadãos bascos se encontram no exilio depois de terem fugido "por causa da repressão dos Estados". Neste contexto, Maite Robles destacou o caso do seu companheiro falecido.
Decorriam os tempos dos GAL [grupo terrorista criado pelo Estado espanhol] quando Angel Lete, deportado político basco morto em Cabo Verde em Dezembro de 2002, foi detido no País Basco norte. Era 1985. Cumpriu os sete meses de condenação impostos por París mas, em vez de ficar em liberdade, o Estado francês ditou-lhe uma ordem de confinamento. Tiveram-no um mês rodando de departamento em departamento, sempre sob uma estrita vigilância policial que não lhe permitia realizar nem uma chamada. Um dia, sem pré-aviso, transferiram-no para o aeroporto Charles de Gaulle rumo ao Senegal. A etapa seguinte foi Cabo Verde, onde o obrigaram a viver durante 17 anos até ao seu falecimento.
Ontem, a sua companheira Maite Robles, junto a familiares de exilados políticos bascos, recordou sensivelmente emocionada aqueles dias de confinamento e deportação. Ao longo desses 17 anos fez nada mais nada menos que 55 viagens ao arquipélago africano. A última foi para repatriar o cadáver do seu companheiro.
"Em toda a viagem tiveram-no com as algemas postas, só as tiraram em Cabo Verde, onde chegou com o céu em cima e a terra em baixo. Começou a viver numa base militar com outros deportados bascos. Tinham a opção de sair à rua mas controlavam-lhes cada movimento. Não tinha nenhum tipo de documentação que acreditasse quem era", explicou Robles. "Imaginem-se como se pode encontrar uma pessoa que nem sequer pode explicar aos locais quem é e por que o levaram para aquele país. Isto gera uma grande impotência, medo e insegurança", destacou.
em Gara.net