Nunca faltam nestas terras notícias relacionadas com a prática da tortura. Desde a denúncia das vítimas, os testemunhos críveis de centenas, milhares de pessoas, até aos relatórios contundentes dos relatores especiais de organizações tão pouco suspeitas de nada como a ONU ou o Comité para a Prevenção da Tortura do Conselho da Europa. Até aí, factos indiscutíveis.
À dantesca relação de cidadãos torturados pelos diferentes corpos policiais que actuam em Euskal Herria junta-se, também, o silêncio insuportável de quem, em privado, reconhece ter a certeza de que o tormento é uma realidade e, em público, em tribunas parlamentares ou perante os meios de comunicação, condescende ou acaba por aceitar as fantásticas explicações do ministro ou do conselheiro de turno. A tibieza é também cúmplice, embora seja só por omissão.
Mas o que é imprescindível para que uma récua de indivíduos infra-humanos aplique o protocolo da tortura é a cumplicidade activa de quem, por não se atrever – ainda – a justificá-la ou a exigi-la, a nega enfaticamente, goza com a evidência e utiliza os seus poderosos meios para converter a vítima em verdugo.
Não é preciso pôr em palavras o retrato de Unai Romano – tirado por funcionários de prisões quando deu entrada em Soto del Real –, após a sua passagem pelas salas de interrogatório da Guarda Civil, para saber o que aconteceu. Mas há que ler a explicação dos vozeiros da democracia à espanhola para compreender a verdadeira importância da cumplicidade. Leio na página da Internet da Fundación para la Libertad – a de Nicolás Redondo, Teo Uriarte e companhia – que tais torturas não existiram, que “o mais provável é que tenha sido ele mesmo, auxiliado por diversos cúmplices e colaboradores, que falsificaram documentos e relatórios médicos, e muito provavelmente até a fotografia do escândalo”. Até aí a indignação pela indignidade.
E a preocupação chega ao ler num sítio alinhado com o jornalismo contra-insurgente que a polícia tinha dificuldades em aceder ao conteúdo de umas peças informáticas apreendidas aos últimos detidos em Nafarroa. Ainda sob incomunicação, o vozeiro mostrava-se bastante esperançado porque, embora estejam protegidas por um sistema criptográfico do tipo PGP, “espera-se que, como aconteceu em tantas outras ocasiões, os etarras colaborem e facilitem as chaves”. São já tantas as “ocasiões”...
Martin GARITANO
jornalista
À dantesca relação de cidadãos torturados pelos diferentes corpos policiais que actuam em Euskal Herria junta-se, também, o silêncio insuportável de quem, em privado, reconhece ter a certeza de que o tormento é uma realidade e, em público, em tribunas parlamentares ou perante os meios de comunicação, condescende ou acaba por aceitar as fantásticas explicações do ministro ou do conselheiro de turno. A tibieza é também cúmplice, embora seja só por omissão.
Mas o que é imprescindível para que uma récua de indivíduos infra-humanos aplique o protocolo da tortura é a cumplicidade activa de quem, por não se atrever – ainda – a justificá-la ou a exigi-la, a nega enfaticamente, goza com a evidência e utiliza os seus poderosos meios para converter a vítima em verdugo.
Não é preciso pôr em palavras o retrato de Unai Romano – tirado por funcionários de prisões quando deu entrada em Soto del Real –, após a sua passagem pelas salas de interrogatório da Guarda Civil, para saber o que aconteceu. Mas há que ler a explicação dos vozeiros da democracia à espanhola para compreender a verdadeira importância da cumplicidade. Leio na página da Internet da Fundación para la Libertad – a de Nicolás Redondo, Teo Uriarte e companhia – que tais torturas não existiram, que “o mais provável é que tenha sido ele mesmo, auxiliado por diversos cúmplices e colaboradores, que falsificaram documentos e relatórios médicos, e muito provavelmente até a fotografia do escândalo”. Até aí a indignação pela indignidade.
E a preocupação chega ao ler num sítio alinhado com o jornalismo contra-insurgente que a polícia tinha dificuldades em aceder ao conteúdo de umas peças informáticas apreendidas aos últimos detidos em Nafarroa. Ainda sob incomunicação, o vozeiro mostrava-se bastante esperançado porque, embora estejam protegidas por um sistema criptográfico do tipo PGP, “espera-se que, como aconteceu em tantas outras ocasiões, os etarras colaborem e facilitem as chaves”. São já tantas as “ocasiões”...
Martin GARITANO
jornalista