O grupo de advogados Behatokia faz uma apreciação positiva do relatório da ONU sobre a situação dos direitos humanos no Estado espanhol, sobretudo das recomendações relativas à supressão do regime de incomunicação e à restrição da interpretação do termo “terrorismo”. Não especula se se irão cumprir ou não, mas realça que Madrid sofre cada vez mais pressão por parte da comunidade internacional.
O relatório final do Comité dos Direitos Humanos da ONU, datado de quinta-feira, é, na opinião do Behatokia, um reconhecimento às vítimas das violações dos direitos humanos políticos e sociais, um tributo às pessoas que estão presas por levar a cabo um trabalho público e transparente. Mas, para além do reconhecimento, o grupo de advogados pensa que se devem dar passos no sentido da reparação, trabalhar para que não se repitam as violações, passar à acção. Neste sentido, o documento de Genebra é para eles uma ferramenta relevante e eficaz que há que tornar pública.
Iratxe Urizar, Edurne Iriondo, Didier Rouget e Julen Arzuaga são membros do Behatokia e participaram nos debates do Comité da ONU, mostrando as suas preocupações e apresentando críticas. Esta comissão estuda se os estados cumprem o pacto dos direitos civis e políticos. Desta vez, publicou dois relatórios em apenas quatro meses, um sobre o Estado francês e outro sobre o espanhol.
O Estado francês
O primeiro relatório das Nações Unidas deu-se a conhecer em Julho e refere-se à situação dos direitos humanos no Estado francês. Didier Rouget afirmou que a primeira apreciação que o Comité faz é relativa ao facto de nesse estado não poderem ter existência jurídica outros povos que não o francês, e que, com a Constituição, não há direitos para as minorias e os povos. Recomenda ao Governo uma mudança de posição para com os direitos das minorias e dos povos. Por outro lado, no âmbito da “legislação antiterrorista”, existe o estado de incomunicação, a prisão preventiva (que se pode prolongar até quatro anos e oito meses) e uma nova categoria de detenção chamada detenção de segurança. Trata-se de uma acção preventiva contra “uma pessoa que por si mesma representa um ataque à segurança”. Estas pessoas podem ficar em centros de castigo ou sofrer medidas específicas como a aplicação de pulseiras de controlo, que permitem à Administração punir durante anos e anos. “É muito importante porque é um modelo que pode ser imitado noutros estados”, advertiu Rouget.
Opina que as recomendações da ONU são juridicamente muito claras e que o Estado francês deve pô-las em prática. Há a possibilidade de fazer um acompanhamento para verificar se efectivamente se aplicam.
Sobre o Estado espanhol, Julen Arzuaga sublinhou o apelo à restrição da interpretação do termo “terrorismo”, bem como as recomendações relativas à protecção de dados pessoais e à supressão definitiva do regime de incomunicação, que, em vez de ver reduzido o seu período, como se pedia em 1996, se prolongou até 13 dias. Os peritos da ONU não encontram justificação para este regime, e alertam para a sua estreita relação com a tortura, pelo que pedem medidas de prevenção e mecanismos de controlo.
Maider IANTZI
Fonte: Gara