sábado, 8 de dezembro de 2007

Acção Nacionalista Basca candidata-se ao Parlamento espanhol

EUSKAL HERRIA PASSO A PASSO
Serviço informativo da ASKAPENA Nº198

Acção Nacionalista Basca:
"Iremos ao Parlamento espanhol reclamar a independência"
Por diversas ocasiões a esquerda basca deparou-se com este dilema: participar ou não participar no Parlamento espanhol? Os que apostavam na candidatura utilizavam um argumento que o próprio Che Guevara defendia: as forças revolucionárias devem aproveitar todos os resquícios que lhes oferecem as democracias burguesas; não devem desperdiçar nenhum dos espaços que nos podem servir para desenvolver a luta popular. Os que se opunham à candidatura argumentavam que a presencia da esquerda independentista no Parlamento espanhol reforçava a pertença de um Estado de que nos queremos tornar independentes e consolidava a validade de uma instituição que é a máxima expressão da nossa falta de soberania

A prática tem sido o reflexo deste debate de estratégias: umas vezes participou-se, outras não, em outras ocasiões manteve-se una presença testemunhal e pontual... De facto, a esquerda basca não participa no Parlamento espanhol desde 1996.

Duas propostas políticas
A esquerda basca, agrupada hoje em torno da sigla da Acção Nacionalista Basca, tem anunciando reiteradamente que quer fazer frente à onda repressiva do Estado intensificando a iniciativa política.
Neste sentido há que situar a proposta de agremiar todos os sectores independentistas numa instituição de carácter nacional. Na base desta proposta está a constatação de que, em todas as forças políticas nacionalistas, há sectores de sensibilidade independentista que no partilham da linha autonomista das suas respectivas direcções. A Acção Nacionalista Basca se dirigiu-se a todos estes sectores convidando-os a conformar um Conselho Nacional Basco: una estrutura nacional em que estejam representadas as diferentes correntes políticas bascas que concordem na sua aspiração de soberania. Instituição que seria à semelhança do Conselho Nacional Africano ou do Conselho Nacional Palestino. O convite provocou o previsível e imediato repúdio da Executiva do PNV, direcção política que não admite outra relação com o Estado para além da “negociação” submissa.

A outra proposta recente da esquerda basca tem a ver com as eleições gerais de Março de 2008. Seguindo a linha do potenciar a iniciativa política, a direcção da ANV anunciou a decisão de concorrer às eleições gerais que se realizarão no próximo ano no Estado para conformar o Parlamento espanhol.
O marco: O anúncio público foi feito no dia 12 de Outubro, no final de uma grande manifestação a favor da auto-determinação.
• O aval da iniciativa: A ANV conta com os 200.000 votos que apoiaram essa sigla nas antidemocráticas eleições municipais de Maio deste ano. Estes votos foram a expressão máxima de fidelidade a um projecto político e um exercício maciço de desobediência civil frente a um Estado que ilegaliza o independentismo.
• Os objectivos: Fazer chegar ao próprio Parlamento espanhol o clamor de um sector social independentista hoje perseguido e silenciado. Contrastar este protesto com a mensagem que transmitem ao dito Parlamento outros parlamentares bascos; mensagem submissa de quem renunciou a reivindicar a nossa soberania nacional.
• O símbolo: Resgatam um elemento mitológico enraizado na nossa cultura ancestral, os 'zanpantzar'. Estas personagens saem em grupo; caminham movendo com força a cintura para fazer soar de forma compassada e rítmica umas esquilas (chocalhos) que levam presas à cintura. Simbolicamente, o som dos badalos afugenta os maus espíritos e as epidemias. Em sentido figurado político, resgata-se esta figura tão presente nas celebrações populares para que afugente todas as ameaças que nos rondam.
• A referência: Uma série de figuras emblemáticas na história do nosso povo: Jon Idigoras (militante histórico da esquerda basca falecido há alguns anos), Agustín Xaho (escritor de Euskal Herria Norte que viveu durante o século XIX), Tomás de Zumalakarregi (no sec. XIX, encabeçou o levantamento dos bascos frente ao Estado centralista em defensa dos seus foros), Dolores Ibarruri (formada no contexto mineiro da Biscaia, foi una das dirigentes operárias mais conhecidas na época republicana abortada depois pelo golpe militar de 1936)
• A proclamação: Um documento anunciado publicamente no dia 2 de Novembro deste ano, cujo título e conteúdos abaixo se resume.
"Somos a nação basca independente"
"500 anos após de ter sido conquistado o Reino dos Bascos, temos 500 razões para acabar com a submissão e abrir a porta à independência. Comprovámos os grandes danos que nos acarreta a dependência imposta. Só sendo donos do nosso presente poderemos desenvolver o nosso futuro. Negam-nos a nossa identidade para nos fazerem desaparecer. Somos a nação basca e não renunciaremos a sê-lo.

Fomos independentes até nos deixaram sem Estado próprio. Despojaram-nos dos nossos foros, último vestígio da nossa liberdade. Quiseram-nos submissos, gerindo as migalhas do regionalismo que nos deixaram. Recusam a oportunidade histórica de oferecer a este povo a solução política para um conflito ancestral. Nas nossas mãos está o amanhã que alcançaremos sem a permissão de ninguém.

Os nossos ascendentes sabiam que a soberania tinha inerente a estrutura de um Estado próprio; por isso apegaram-se à independência. Hoje encontramo-nos frente ao mesmo dilema mas com a lição bem aprendida. Por isso proclamamos um SIM rotundo à nossa independência. Temos que criar o nosso próprio Estado para modelar o poder da sociedade basca. Um Estado que ampare a nossa língua, a nossa cultura e um modelo social de esquerda.
Graças à independência deixaremos para trás a humilhação da vassalagem, abriremos as portas à igualdade da justiça para com os povos, teremos o nosso espaço no mundo.

Tal como optamos pela independência e a criação de um Estado basco, reclamamos a igualdade de oportunidades para todos os projectos políticos, incluindo o independentista. Este projecto deve de ser reivindicado em todos os cenários políticos; daí a importância das próximas eleições (2008). Só a actuação unitária de todos os independentistas garantirá o futuro da nação basca e a sua independência."


Euskal Herria, 26 de Novembro de 2007.