Seguramente não havia cenário mais adequado para falar do que a família Lupiañez tem vivido desde que, no passado dia 6, Gorka foi detido por elementos da Guardia Civil, que a casa que estão a construir, entre outras coisas, porque esse era o sonho do jovem agora encarcerado em Soto del Real. Uma conversa cheia de contrastes, emoção e raiva, carinho e desgosto, de muita tristeza também, pelo que se poderia resumir em poucas, mas sentidas palavras que a família foi repetindo uma e outra vez impotência, debilidade, força, esperança e agradecimento.
Lutxi Mintegi, mãe de Gorka, sublinha o sentimento de impotência que sentiu no momento em que tiveram a notícia da detenção: “Sabes que estão a torturar e não podes fazer nada, ninguém te diz onde está, ninguém faz nada para o evitar”. Andoni Lupiañez recorda a debilidade que chegou com a angústia de “cada dia e cada minuto em que não soubemos nada e a dureza do seu testemunho na primeira visita”, mas também a força que lhes deu “o apoio das pessoas na rua e agora ver que Gorka está a recuperar”.
O pai, Juanra Lupiañez espera que a denúncia da tortura sirva para que mais gente conheça o que acontece e que se comprometa. E Gorka, pela sua parte, no comunicado que este sábado receberam na prisão madrilena, expressou o seu agradecimento a quem tem apoiado nas ruas a sua família, ajudando-os a fazer frente a esta difícil situação”.
Gorka Lupiañez foi preso na tarde do dia 6 mas os seus familiares de nada souberam até ao início da tarde de dia 7 quando acabavam de participar numa iniciativa de solidariedade com os presos, junto a Azoka de Durango. Alguém tinha ouvido algo num meio de comunicação sobre a suposta detenção. “Essa foi a única notícia que tivemos; nenhum telefonema, ninguém nos disse oficialmente nada”. De seguida, iniciaram a caminhada, pedindo no Tribunal o habeas corpus, que lhes foi negado no dia seguinte “como já esperava, porque, como disse a secretária do Tribunal que me deu a resposta, não temos confiança alguma na Justiça”.
“Estávamos conscientes que o tinham torturado – disse Lutxi num fio de voz – mas é muito duro ouvir um filho contar o que lhe fizeram”. E acrescenta: “O meu filho esteve sequestrado, logo, foi torturado… e todos nós, onde estão os nossos direitos? Em oito dias, nada soubemos dele, ninguém nos veio dizer onde estava, como estava. Uma impotência total. Os políticos dizem que estão ao serviço de todos os cidadãos… Mas os meus direitos, os do meu marido e os dos meus filhos foram ignorados e ninguém apareceu, nem aqueles que dizem que estão a trabalhar pela paz e a favor das vítimas. Vítimas há em todo o lado, e ao menos ao nosso lado não estiveram”.
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