domingo, 16 de dezembro de 2007

ETA assume cinco acções armadas


ETA actuará “seja onde for” contra as forças de segurança espanholas


Euskadi Ta Askatasuna, num comunicado enviado ao GARA, assume cinco acções levadas a cabo entre 9 de Setembro e 1 de Dezembro, entre elas a “execução dos membros dos grupos especiais da Guardia Civil, Raúl Centeno e Fernando Trapero, no decurso de um confronto armado” na localidade de Capbreton (Landes). E avisa que “continuará actuando contra todas as forças e aparelhos repressivos do Estado espanhol seja onde for, na medida em que são instrumentos para continuar a oprimir Euskal Herria”.

A organização armada reivindica, em primeiro lugar, a tentativa de atentado a 9 de Setembro em Logroño contra a Delegação de Defesa do Governo espanhol; a explosão de um artefacto na esquadra da Ertzaintza em Zarautz no dia 25 desse mês; a acção que, a 9 de Novembro, no bairro bilbaíno de Abusu, provocou ferimentos ao guarda-costas Gabriel Ginés, ao fazer rebentar uma bomba colocada sob o seu carro; e a colocação de artefactos explosivos ante os Tribunais [junto ao Tribunal] de Getxo no dia 11 de Novembro, “de que resultou o ferimento de um ertzaina”, quando estava a manipular um detonador.

Numa primeira referência ao tiroteio de Capbreton, a ETA denuncia a estratégia empreendida pelo Governo espanhol “assim que arrasou com o processo de negociação que pretendia reconhecer o direito de autodeterminação de Euskal Herria e dar a palavra ao povo; apostou na repressão selvagem”.

No seu entender, o executivo do PSOE iniciou “em todas as frentes” uma série de operações policiais “que têm por objectivo a detenção, tortura e a tentativa de assassinato de militantes independentistas bascos que lutam e trabalham pela criação do Estado de Euskal Herria”.

Uma estratégia que, no seu entender, “segue um caminho bem traçado” e que se reflectiu na detenção e posterior encarceramento de “jovens comprometidos” – cita concretamente as operações efectuadas em Getxo, Nafarroa, Donostia e Gasteiz – e dos “que foram interlocutores na mesa de negociação e dos membros da Mesa Nacional”, assim como daqueles “membros do movimento popular condenados em julgamentos fantasma [de farsa]”, em clara referência aos acusados do Processo 18/98.

De facto, recorda as palavras do ministro espanhol do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba, em que, “com a conversa [o descaramento / a sobranceria] do opressor”, apontava a sua intenção de deter um elevado número – exactamente de três dígitos – de bascos. “Cumpre-se a ameaça. É essa a realidade da legislação e justiça espanholas que se impõem a Euskal Herria: o Ministério do Interior ordena e anuncia, a justiça cumpre”, censura. Por isto, conclui que os Bascos vivem “um estado de excepção que tenta destruir o independentismo”.

É nesse ponto que retoma “a execução” das Landes. Assegura que, em todo o decurso do processo negociador, advertiu “de forma directa” perante a delegação do Governo espanhol e os mediadores internacionais que tinha detectado “actuações de terrorismo de Estado contra militantes bascos” e que “perante essas tentativas” lhes disse que responderia. “Foi avistada a Guardia Civil de Espanha na casa dos gudaris (guerrilheiros [combatentes]) bascos e foi feito o que já estava anunciado anteriormente: a 1 de Dezembro, em Capbreton, a ETA respondeu à incessante pressão das forças armadas de Espanha contra os militantes bascos”.

A ETA também analisa, no seu comunicado, as reacções ao tiroteio. Em primeiro lugar, dirige-se aos meios de comunicação espanhóis e franceses porque entende que “entraram por um caminho” em que se dedicam a “mentir e confundir. Cumprindo ordens de dirigentes políticos, servindo-se de acusações falsas, parece que não têm outro objectivo que enganar a sociedade”.

Acrescenta que esses meios estão a demonstrar que “sabem manejar a informação, mas só a que interessa, a que se constrói nos escritórios de cargos governamentais como os de Michèle Alliot-Marie e Alfredo Pérez Rubalcaba”. Segundo diz, dedicam-se a “esquecer o conflito político-armado que vivemos em Euskal Herria, fortalecer as actuações das suas forças repressivas e destorcer o contexto político dos acontecimentos. Pelo jeito, vale tudo contra a ETA”.

Para a organização armada, também entraram nesse jogo os dirigentes de alguns partidos bascos “que, segundo parece, esqueceram o terrorismo de Estado sofrido pelo nosso povo e seus cidadãos durante tantos anos. Querem ocultar a situação de opressão que sofre Euskal Herria em todos os âmbitos e a repressão que exercem os poderes de Espanha e França sobre os Bascos.

Não derramaram as lágrimas vertidas nestes dias, no hospital de Baiona, quando torturaram selvaticamente cidadãos bascos, nem expressaram o ódio que mostram contra a esquerda abertzale, quando a Guardia Civil de Espanha, por ordem de juízes fascistas, começou a deter dezenas de bascos”.

Nesse contexto, remete para os tempos dos governos do PSOE, presididos por Felipe González, “quando pôs em marcha a guerra suja”. Destaca que “ministros como Pérez Rubalcaba e altos cargos das forças armadas espanholas se dedicaram afincadamente à elaboração desse plano mesquinho” e recorda que foram muitas as vítimas daquelas “selvajarias e assassinatos, levadas a cabo com a cumplicidade de alguns juízes e altos cargos franceses”.

Mais próximos ficam os sequestros, torturas e assassinatos de Xabier Kalparsoro, Txato, Josu Zabala, Basajaun e José Luis Geresta, Ttotto. Este povo não perdoará!”, acrescenta.

Perante esta análise, e depois de perguntar a Paris se “está disposto a oferecer o seu apoio a toda esta actuação das forças armadas de Espanha”, aconselha ambos os Estados a “desactivar os mecanismos que aprofundam [intensificam] a negação de Euskal Herria e as vias repressivas”.