Vozes do rock basco rejeitam a repressão contra o independentismo
Num texto que começa por recordar que “foram muitos os grupos de rock em Euskal Herria que, durante a chamada transição para a ‘democracia’, mostraram nas suas letras a dissidência contra os poderes estabelecidos”, algumas vozes conhecidas por formar parte de grupos que foram e são míticos no âmbito da música rock no País Basco rechaçam “a imposição, a repressão e a tentativa de nos silenciar” e reclamam “guk ere independentzia” [somos também pela independência].
Assinam este texto Txerra Bolinaga, que foi baterista dos RIP; Evaristo, durante muitos anos vocalista do grupo La Polla, de Agurain, e actualmente dos Gatillazo; Iñaki Ortiz de Villalba, vocalista dos Betagarri; e Aitor, guitarrista dos Obligaciones. Todos eles, com o apoio de duas formações musicais jovens como The Dogs of the Black Foot e Karrocerías Betoño, puseram em circulação uma carta intitulada «Guk ere independentzia», que esperam que receba mais apoios nos próximos dias. De facto, Txerra Bolinaga assegura que já há grupos e pessoas no contexto abrangente da música rock dispostas a assiná-la.
E não parecem querer ficar-se pelas meras palavras, uma vez que hoje mesmo vão expressar o seu compromisso num concerto a favor da independência, que terá lugar na sala People de Gasteiz, com começo previsto para as 21h30, e em que estarão presentes os RIP, os Obligaciones e os Indarrap, entre outros.
“Amanhã podes ser tu”
Os autores deste texto recordam que, nos tempos da denominada transição para a “democracia”, “as letras antimilitaristas, antifascistas, contra a repressão policial, contra a tortura... se podiam ouvir em qualquer povoação de Euskal herria”. Desta forma, asseguram, o rock “era uma ferramenta mais contra o regime e as imposições”.
Denunciam em seguida que durante a última década “a escalada repressiva contra o independentismo basco dá um salto importante, iniciando-se uma caça às bruxas contra tudo o que consideram o ‘ambiente’ da esquerda abertzale”. E, neste sentido, referem exemplos como o encerramento de jornais e rádios, a ilegalização de organizações juvenis, de partidos políticos..., sublinhando além disso que esse “ataque” também atingiu o rock basco: “grupos como S.A., Berri Txarrak, Fermin Muguruza, Su ta Gar e outros... são perseguidos e acossados pelo nacionalismo espanhol”.
É nesse contexto que enquadram a situação que atravessa Euskal Herria, na qual “a liberdade de expressão e de opinião vive um dos momentos mais obscuros”. Acrescentam que o Estado espanhol, “com a ajuda dos partidos dóceis e submissos de Euskal Herria (que falam muito mas que fazem bem pouco), está a bater forte e a causar danos”, e que cada movimento político tem como resposta “mais repressão”.
Como consequência dessa dinâmica, “são cada vez mais as pessoas detidas, torturadas e encarceradas”, sobre quem dizem que “foram e são sequestradas por dar conferências de imprensa, trabalhar num jornal, por fazer política, fomentar a desobediência civil, trabalhar em favor do euskara...”. Em definitivo, concluem estes representantes do rock basco, “por trabalhar por Euskal Herria”.
Qualificam de “hipocrisia” a justificação de “todos estes atropelos” em que “violência e democracia não podem andar unidas”, e avançam que isto é esgrimido por aqueles que “invadiram o Iraque, mandam tropas para o Afeganistão, criaram os GAL, louvam o franquismo, torturam nos quartéis e nas esquadras, reprimem manifestações... e tantas coisas mais”.
Por todas essas razões, os assinantes deste texto consideram que se “quer acabar com o independentismo basco”, facto que denunciam porque, tal “como há trinta anos, os herdeiros do franquismo continuam aqui; porque a liberdade de expressão e de opinião não existe; porque vivemos num estado de excepção encoberto; porque hoje levaram a tua vizinha ou o teu amigo... e, amanhã, talvez possas ser tu”.
fonte: Gara