Sem esperar pela Audiência Nacional, foi o próprio Ministério do Interior de Lakua, encabeçado por Javier Balza, que vetou a realização de uma manifestação e de diversos actos de celebração que teriam lugar em Landako. Depois desta actuação do Governo de Gasteiz, o magistrado do tribunal especial, Fernando Andreu, manifestou hoje de manhã que nem sequer tinha que tomar uma decisão sobre o assunto.
O impulso repressivo de Balza teve correspondência no enorme contingente policial que se deslocou para as ruas de Durango. Poucos minutos antes das 17h, fez-se notar a primeira viatura policial nas imediações da Feira de Exibições de Landako, e vários ertzainas colocaram-se à frente das pessoas que gozavam a tarde ensolarada e esperavam pelo começo das celebrações, junto ao Kafe Antzokia. Dez minutos depois, apareceram dois novos veículos, e desta vez os agentes policiais saíram deles com o claro propósito de intimidar os que se iam aproximando de Landako, posando com as suas armas. Não foi preciso muito para ver chegar o contingente policial completo, com mais seis brigadas móveis. Entretanto, a polícia autonómica obrigou dois jovens que tinham estacionado um veículo ali perto a abrir a mala do carro e, às 17h30, um par de agentes dirigiu-se ao interior do Kafe Antzokia em busca de representantes da esquerda abertzale. Militantes históricos do independentismo como Tasio Erkizia, Itziar Aizpurua, Anjel Alcalde e Txomin Ziluaga foram obrigados a identificar-se, tendo iniciado uma negociação com os agentes. Iñaki Olalde, Julen Aginako, Itziar Lopategi e Kepa Bereziartua também se aproximaram, mas as conversações não frutificaram, uma vez que os ertzainas insistiam que a celebração estava proibida e que não iriam permitir que se tivesse lugar.
Tapam a boca a Olalde
Os representantes do movimento independentista optaram por destacar o sucedido perante os meios de comunicação, tendo Olalde denunciado que o PNV se tinha “adiantado” ao PSOE e ao Governo espanhol na proibição do 30.º aniversário do Herri Batasuna. Na sua perspectiva, a formação jeltzale [PNV] “quer deixar claro perante Madrid que está disposta a fazer de criado e a preparar o caminho para repetir a fraude política de há trinta anos”. Num dia gritam Gora Euskadi Askatuta! [Viva o País Basco livre!] e no seguinte intensificam a estratégia repressiva impulsionada pelo PSOE”, acrescentou, em alusão ao PNV.
O porta-voz independentista pôde terminar a sua declaração na íntegra em euskara; contudo, quando começou a pronunciá-la em castelhano, os agentes exigiram-lhe que se calasse. Olalde estava a dizer que a esquerda abertzale pretendia transmitir à sociedade basca, nas celebrações de ontem, que conta com a proposta de marco democrático para solucionar o conflito político e criar um cenário de paz; mas, nesse instante, um agente precipitou-se sobre ele e tapou-lhe a boca. Acto contínuo, a polícia autonómica fez anunciar a partir de um altifalante que a mobilização era ilegal e que as centenas de pessoas ali congregadas deviam dispersar. A resposta à ameaça dos agentes foi dar meia volta e iniciar uma manifestação pelas ruas de Durango.
Manifestação reprimida
Foram muitas as pessoas que secundaram a marcha, à frente da qual seguia uma faixa em que era visível o lema da comemoração dos 30 anos da fundação do Herri Batasuna, e na qual se gritaram palavras de ordem contra o PNV, o PSOE e a favor da independência. A polícia municipal cortou o tráfego para que a marcha pudesse prosseguir, mas, quando a cabeça da manifestação se aproximou da Zona Antiga da localidade, deparou com um muro de agentes armados. Os manifestantes detiveram-se, pararam a marcha e começaram a cantar o «Eusko Gudariak» [hino basco] com o punho erguido; nesse momento, os ertzainas desataram a correr atrás deles. Pelo menos duas pessoas foram detidas depois da primeira carga, e a mobilização dispersou-se com as cargas repetidas nas ruas adjacentes. Ainda assim, muitos dos participantes conseguiram furar o cerco policial e chegar à praça de Santa Ana, onde se foi possível celebrar o comício político.
Olalde voltou a tomar a palavra nas escadarias da igreja da Zona Antiga e, acompanhado por Itziar Aizpurua, Txutxi Ariznabarreta e outros representantes do movimento independentista, assinalou que as moções “éticas” apresentadas pelo par PNV-PSOE são um pedaço de “sarcasmo”, quando os jeltzales enviam “o seu braço armado” para impedir a comemoração de Landako ou evitam a realização de uma conferência de imprensa a tiros, como aconteceu na semana passada em Orereta (Errenteria). Para além disso, teceu duras críticas sobre o aval que estas duas formações dão à “tortura, ao encarceramento de porta-vozes políticos e ao sistema judicial”. O representante independentista afirmou que, do mesmo modo que há trinta anos “venderam Euskal Herria por um prato de lentilhas”, o PNV pretende realizar juntamente com o PSOE uma “nova fraude”, e necessitam debilitar a esquerda abertzale.
Carga policial no fim do comício
Durante as celebrações, realçaram que o PNV tem “medo” da mensagem da esquerda abertzale porque nos últimos 30 anos demonstrou o seu “compromisso com a independência e com a criação de um marco democrático para solucionar o conflito”. Recordando as declarações de Jon Idigoras segundo as quais, se o HB não existisse, teria que ser inventado, assegurou que o político de Zornotza, falecido em Junho de 2005, representa o carácter da esquerda abertzale: “somos teimosos, nós, os Bascos, nos nossos objectivos políticos, e toureiros porque quase sempre agarramos o touro pelos cornos; outras vezes toureamo-lo, mas, desgraçadamente, recebemos muitas vezes cornadas dolorosas”.
A polícia autonómica seguiu as intervenções a partir de um dos lados da praça. Todavia, quando o comício estava a caminhar para o seu fim, com os assistentes a cantarem «A Internacional», um agente pegou no microfone e deu por terminada a iniciativa. Pouco depois, um grupo de beltzas * entrava na praça e carregava contra os presentes a cassetete, provocando vários feridos.
* polícia basca de elite anti-distúrbios; temidos e desprezados no País Basco, os agentes deste corpo policial são conhecidos por beltzak ou beltzas [negros] por causa do uniforme que envergam.