quarta-feira, 23 de abril de 2008

Etxerat: “O balanço da repressão no mandato de Zapatero é brutal”

A associação de familiares de presos e refugiados políticos bascos – Etxerat – deu ontem a conhecer o “brutal balanço repressivo” do primeiro mandato de José Luis Rodríguez Zapatero à frente do Governo espanhol. Segundo denunciaram, a “violência exercida” durante quatro anos contra os presos e os seus familiares pelo Executivo do PSOE, com a “inestimável ajuda” dos partidos bascos (sobretudo o PNV), “foi diária”, e avisaram que não estão dispostos a “suportar outra legislatura de violência de Estado”.

Mattin Troitiño, filho do preso político Txomin Troitiño, que deveria estar em liberdade, depois de ter cumprido a pena que lhe foi imposta, e Juan Cruz Coto, pai de Egoitz Coto, encarcerado em Daroca, tomaram a palavra para informar sobre uma “realidade sistematicamente ocultada das consequências do conflito político”.

Também participaram na conferência de imprensa como exemplos do sofrimento que padeceram na primeira pessoa, o pai de Roberto Sainz – morto pela política penitenciária em Março de 2006; a mãe do preso político basco gravemente doente Angel Figeroa; o pai de Jose Mari Sagardui, Gatza – o preso político há mais tempo encarcerado na Europa (cumprirá 28 anos em Julho); Irantzu Abad, que esteve quase a perder a vida na sequência de um acidente ocorrido quando se dirigia a uma visita; e o pai de Xabier Gartzia, que se encontra em regime de isolamento na prisão de A Lama.

A Etxerat realçou que desde Março de 2004 faleceram cinco presos políticos bascos – Kepa Miner, Ohiane Errazkin, Kotto Altzuguren, Roberto Sainz e Igor Angulo –, “vítimas de uma política prisional cruel e carente de qualquer moral”, e que três familiares morreram e 270 sofreram diversos tipos de ferimentos nos 100 acidentes provocados pela dispersão.

Para além disso, recordaram que com Zapatero se atingiu a cifra de 735 presos políticos, o número mais alto da história recente, e que foram feitas 100 denúncias judiciais por tortura. Sobre as condições de vida na prisão, afirmaram que se “agravaram, chegando a ser insustentáveis”, uma vez que “o isolamento, a degradação da assistência sanitária, as legislações especiais foram o pão nosso de cada dia”.

Afirmaram ainda que são mais de 40 os presos que estão há mais de 20 anos na prisão, que 12 dos presos políticos se encontram gravemente doentes e que a 21 deles foi aplicada a doutrina 197/06 do Supremo Tribunal, impondo-lhes a prisão perpétua.

A Etxerat denunciou que a legalidade que se aplica aos presos “nem é sinónimo de justiça, nem eticamente correcta” e que “dá cobertura e impunidade à repressão mais brutal jamais conhecida nestas terras”. Por isso, indicaram que vão fazer tudo o que está ao seu alcance para acabar com esta política penitenciária e intervir também na resolução do conflito.

Dia internacional

Às 19h30 de hoje decorrerá na praça Etxebarrieta, de Bilbau, uma manifestação e um acto político relacionado com o Dia Internacional dos presos políticos. Para amanhã está previsto um debate sobre o tema, às 20h30, na Errondabide Kultur Elkartea.

A mãe de Figeroa “só” pede que “cumpram a sua lei”

Mari Karmen Fernández, mãe do preso político Angel Figeroa, que se encontra na prisão apesar de estar gravemente doente, como acontece a outros 12 presos, explicou que nos últimos meses as crises epilépticas que o seu filho sofre se incrementaram e criticou esta situação como “cruel e injusta e, digam o que disserem, ilegal”. Fernández declarou que “só pedimos que cumpram a sua lei, nada mais”, em referência à aplicação do artigo 92, que contempla a libertação dos presos com doenças incuráveis. “O Angel está gravemente doente e a prisão é o pior sítio para conseguir uma recuperação mínima. Qualquer pessoa que veja os relatórios o pode constatar”, acrescentou.

Fonte: Gara