A sessão plenária do Município de Zizurkil, celebrada à porta fechada e custodiada por dezenas de polícias equipados com material anti-distúrbios, aprovou ontem por “unanimidade” a mudança dos nomes das praças Joxe Arregi e Joselu Geresta, ‘Ttotto’, tal como era exigido pelo PP, o PSOE e a Audiência Nacional espanhola, bem como a eliminação da ajuda, já incluída no orçamento de 2008, aos familiares dos presos políticos da localidade, no valor de 9000 euros. O mal-estar dos moradores fez-se notar no exterior da Câmara Municipal, com dezenas de zizurkildarras a protestarem sob apertada vigilância da Ertzaintza.
Como o partido político que mais votos alcançou nas eleições de Maio de 2007, a EAE-ANV, foi excluído da vereação, a actual presidente do município de Zizurkil, a jeltzale María Ángeles Lazkano, apresentou a moção que acabou por ter o apoio de todos os edis e que procede contra dois acordos municipais que, em 1981 e em 1999, decidiram dedicar o nome de duas praças do município a dois dos seus habitantes já falecidos. Arregi morreu em 1981 na sequência das torturas brutais que sofreu às mãos da polícia espanhola, e Geresta, também militante da ETA, morreu em circunstâncias estranhas, que a esquerda abertzale enquadrou no contexto da “guerra suja”.
A crispação que esta decisão em Zizurkil irá gerar já foi apontada no sábado passado pela esquerda abertzale, que, numa conferência de imprensa, perguntava aos actuais governantes se tanto Arregi como Geresta não eram também “vítimas”.
Vítimas “que ofendem”
Paradoxalmente, o texto aprovado com os cinco votos do PNV, os dois do EA, o do PSE, o do PP e o da EB-Aralar explica que as praças referidas “ofendem a sensibilidade das vítimas” e recorda que “os critérios ideológicos que mantêm os grupos políticos que integram a actual vereação” são diferentes dos das anteriores, numa clara alusão à esquerda independentista.
Se a polícia autonómica procedeu a um desdobramento impressionante em Zizurkil, a Guardia Civil realizou vários controlos de estrada durante todo o dia em diversos pontos de acesso à localidade guipuscoana. Não obstante, não foram um obstáculo para que dezenas de habitantes denunciassem a atitude do executivo municipal e, concretamente, do PNV e do EA, contra os quais apresentaram cartazes com o lema “PNV-EA, españolen morroi” [PNV-EA, criado dos espanhóis].
“PNV e EA fizeram o trabalho sujo ao Estado espanhol”
Mikel Arrastoa, que ocuparia agora a presidência do município de Zizurkil se não fosse o veto dos tribunais espanhóis ao concurso da ANV às eleições municipais, expressou ao GARA “a humilhação” que significou o plenário de ontem à tarde para a esquerda abertzale e para Zizurkil. Arrastoa começou por criticar a “ilegitimidade” da decisão ao excluir da Câmara Municipal a formação política mais votada na localidade, e denunciou “a humilhação” que foi a Ertzaintza ter impedido o acesso dos moradores ao edifício da Câmara. Foram cinco os representantes da esquerda abertzale que estiveram presentes no plenário, no qual Arrastoa tomou a palavra para denunciar que este tipo de medidas fazem retroceder os zizurkildarras a épocas de confrontação e de tensão. Para Arrastoa, o PNV actuou de forma insidiosa e nas costas do povo, e adiantou que “não vamos aceitar esta decisão. Como esquerda abertzale, continuaremos a usar esses nomes, porque são os seus, os de Arregi e ‘Ttotto’”.
Em termos semelhantes falou aos microfones da Info7 o ex-primeiro edil Juan Manuel Erasun, que sublinhou que o PNV e o EA se aventuraram a levar até ao final algo que “nem o PP” se atreveu, e criticou o facto de terem feito “o trabalho sujo ao Estado espanhol” num plenário de “humilhação, com gente de fora dentro do salão plenário e os zizurkildarras, vetados, cá fora”.
em GARA.net