Mikel JAUREGI
Os processados no sumário 33/01, representantes do movimento pró-amnistia, mostraram ontem o seu convencimento de que, depois do julgamento que se iniciará contra eles na Casa de Campo a 21 de Abril, acabarão na prisão. “Muitos de nós vimos da prisão, e para ali seremos levados”. A razão desta afirmação funda-se na convicção de que “a sentença está escrita. Ao cabo de um julgamento que resultará numa farsa, seremos condenados”.
Josu Beaumont, detido na busca contra as Gestoras pró-Amnistia, expressou dessa forma o sentir dos 27 imputados, mas advertiu que “não nos esconderemos; no dia 21 de Abril estaremos na Casa de Campo e faremos frente a esta farsa com toda a dignidade. Como nós, de resto, membros do movimento pró-amnistia, o temos feito nestes últimos 30 anos, num trabalho que todo o País Basco conhece de sobra. Um trabalho público, firme e consciente, consistente na denúncia da repressão e no apoio aos presos e refugiados políticos”.
O navarro, ao referir-se à estratégia repressiva dos estados, e especialmente do espanhol, citou “os fuzilamentos, a guerra suja, as torturas, a política de atirar a matar nas manifestações, as prisões de extermínio, a dispersão, a perseguição, as ilegalizações... São milhares os cidadãos bascos que a sofreram, e nós, representantes do movimento pró-amnistia, temos sido testemunhas de tudo. Por isso não nos sentimos imputados, porque somos testemunhas”.
“Os ideólogos”
De facto, referiu que “os responsáveis últimos, os ideólogos” da linha de actuação mantida nestas três décadas pelo movimento pró-amnistia “foram os diferentes ministros do Interior espanhóis: Martín Villa, Rosón, Barrionuevo, Corcuera, Mayor Oreja, Rajoy, Acebes, Rubalcaba... Dizemos isso a sério. São eles que esboçam a política penitenciária e os que põem em marcha a ‘frente de makos’, são eles os que alimentam a linha contra a tortura, são eles os que dão alento à reivindicação de ‘alde hemendik' [daqui para fora]... Admitiu-o na sua época o próprio Felipe González quando disse que ‘os presos são razão de Estado'”.
Para Beaumont, um Estado “pseudo-democrático” como o Espanhol “nunca admitirá que faz uso da violência, pelo que opta por acabar com as testemunhas. Por isso actuam contra nós, contra o movimento pró-amnistia, e por isso inventam a teoria do ‘tudo é ETA’”.
Agradecimento
Juan Mari Olano expressou o agradecimento dos processados aos “milhares de pessoas que trabalharam e trabalharão no movimento pró-amnistia”, assim como “a todos aqueles que, para lá das ideologias, confiaram nele”.
Amnistia
O zaldibiarra ressaltou que, “quando reivindicamos a amnistia, não falamos só do regresso a casa dos presos e refugiados. Porque a amnistia é a solução, já que aborda as raízes do conflito”.
Ronda de que excluem os partidos, por “incapazes”
Juan Mari Olano e Julen Larrinaga, nas suas respectivas intervenções, informaram que os processados vão empreender uma ronda de contactos e interpelações “com todos os agentes, menos os partidos políticos”. A exclusão deve-se, segundo precisou Larrinaga, à “incapacidade que demonstraram nos últimos 30 anos para resolver esta situação”. Para além disso, fizeram um apelo ao conjunto de organismos de Euskal Herria e aos cidadãos “para que se mobilizem. Não em solidariedade connosco, nem com a Askatasuna, nem com o movimento pró-amnistia, mas antes em apoio aos que sofrem a repressão e para fazer frente a essa realidade”.
O zaldibiarra, na linha das declarações de Josu Beaumont, indicou que “foi a opressão que criou o movimento pró-amnistia. E quanto mais repressão, mais movimento pró-amnistia. E, a julgar pelo que Rubalcaba manifestou, parece que vem aí um ciclo bem comprido”. Acrescentou também que, “quando actuam contra o movimento pró-amnistia, o Estado nos está a dizer que continuará com a repressão, que a irá acentuar, e que, mais ainda, o quer fazer com absoluta impunidade, sem testemunhas que lhe sejam incómodas. Mas engana-se uma vez mais”.
Fonte: GARA