quarta-feira, 16 de abril de 2008
Gestão municipal da ANV põe travão à estratégia do PSOE e do PNV
Apesar de ter sido vítima do apartheid político durante quatro anos, a esquerda abertzale recuperou o Município de Elorrio na sequência das eleições de 27 de Maio de 2007. E fê-lo, para além disso, obtendo os melhores resultados da sua história, ao conseguir a voto de 1672 cidadãos, que apoiaram assim a candidatura da EAE-ANV encabeçada por Niko Moreno (já tinha governado o município entre 1999 e 2003), e converteram o partido ekintzale na primeira força política a localidade biscaína. A EAE-ANV alcançou inclusive mais votos que o PNV e o PSE juntos, as duas formações que apresentaram uma moção pedindo a condenação da ETA e, em caso de recusa, que Moreno abandone a presidência do Município. O PNV conta com cinco vereadores e o PSE com um. O resto da Vereação é composto pelos seis vereadores ekintzales e um do grupo independente EHA.
O primeiro vereador de Elorrio manifestou ontem ao GARA que o apoio obtido nas urnas lhes dá “confiança e legitimidade” para assumir a situação. Segundo destacou, “não existe na rua esse sentimento de que à actual Edilidade falte apoio social” e assegurou que “ninguém concebe uma necessidade de mudança”. E crê que nem dentro do PNV haja essa “necessidade”, porque “estão conscientes de não possuírem legitimidade suficiente, e menos ainda apoiando-se no PSE e baseando-se em princípios éticos”.
Para além do mais, PNV e PSE não têm número suficiente de vereadores para obrigar a EAE-ANV a deixar os destinos da Câmara, e necessitariam do apoio do vereador da candidatura independente. Moreno afirmou que as relações com o EHA são “fluidas” e que o seu representante é um elemento-chave para levar avante qualquer iniciativa. Por isso, insistiu em que desde o governo municipal se deve passar aos cidadãos de Elorrio uma imagem de “tranquilidade e normalidade”.
Uma outra forma de fazer as coisas
A esquerda abertzale obteve resultados eleitorais muito bons em Elorrio na última década, e na legislatura anterior às ilegalizações Moreno governou a localidade biscaína, como actualmente, durante quatro anos. Em 1999, sob as siglas do EH, obteve um aumento importante de votos e conseguiu quatro vereadores, que, aliados a três edis de uma candidatura independente, arrebataram o Município ao PNV pela primeira vez desde 1979. A gestão municipal liderada por Moreno voltou a ser apoiada nas urnas em 2003, com o número de votos a subir até aos 1400, apesar de a lista da esquerda independentista ter sido ilegalizada pelos tribunais espanhóis. Nas últimas eleições, o aumento da votação voltou a repetir-se. Moreno considera que o principal motivo para que isto suceda reside no facto de a esquerda abertzale ter “outra forma de fazer as coisas”, em comparação com o PNV. Neste sentido, realçou o modo como o seu governo procura que a Câmara Municipal esteja “aberta” aos habitantes, e está convicto de que, se a formação jeltzale [PNV] regressasse ao Município, seria “um passo atrás”.
A gestão do PNV-EA, na legislatura anterior, foi muito criticada pelos elorrioarras, tendo inclusive uma associação de moradores interposto uma acção em tribunal contra o Plano Geral de Ordenamento Urbano, que previa a construção de 1100 fogos (implicando um aumento da população em cerca de 40%), e uma zona industrial. O juiz suspendeu o plano urbanístico por considerar que foi aprovado com irregularidades na sua tramitação. O governo local anterior aprovou rapidamente o plano, concretamente a 30 de Março, a dois meses das eleições, aproveitando a nova Lei do Solo. Assim que acedeu ao cargo, Moreno posicionou-se contra o plano.
Desde que a EAE-ANV governa, o Município de Elorrio caracterizou-se também pela oposição ao Comboio de Alta Velocidade e pelo trabalho realizado para que os cidadãos possam expressar a sua opinião sobre as obras deste projecto, através de uma consulta. Ainda que a Delegação do Governo espanhol tenha proibido o Município de a organizar, um grupo de moradores tomou a dianteira, e os habitantes mostraram a sua recusa.
GARA