[De Jorge Seabra] Vem isto a propósito do recente falecimento de Frank Carlucci, antigo embaixador americano em Portugal entre 1975 e 78, indo depois ocupar o cargo de Director-adjunto da CIA (78-81).
«Durante o longo tempo em que esteve em Portugal, criou, com o futuro Presidente Mário Soares, uma cumplicidade estratégica essencial» – declarou o Presidente Marcelo, também ele um amigo de Frank Carlucci. Na realidade, Carlucci esteve só três anos como embaixador em Portugal mas foi, de longe, o mais famoso de todos. E a forma como se fala dele é, agora, muito diferente.
«Cumplicidade estratégica» entre Carlucci e Mário Soares?...
Nos anos 70, se alguém o dissesse, corria o sério risco de ser apelidado de mentiroso, radical, sectário comunista! Mesmo o jovem Marcelo, ainda a adaptar-se à mudança por ter vivido sempre «encostado» à ditadura, talvez dissesse que nem conhecia o ianque…
A ligação aos USA e à CIA, então implicados no sangrento golpe de Pinochet, no Chile (1973), queimava. O presidente eleito, Salvador Allende, e a via pacífica para uma sociedade mais justa de matriz socialista, sucumbiam à violência da CIA que supervisionou a imposição de uma brutal ditadura.
Um ano depois, em Portugal, a Revolução do Cravos, punha de novo o povo a berrar «o povo unido jamais será vencido» e outras coisas acabadas de silenciar à bala no Chile. Para os USA, era mais uma intolerável chatice. Agora na Europa. Lá teria a CIA de fazer as malas e vir tratar do assunto. E foi o que fez. (Abril)
quinta-feira, 14 de junho de 2018
«Carlucci e Companhia»
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