[De Maurício Castro] Nas últimas décadas, umha esquerda em descomposiçom, após sucessivas derrotas, engole e regurgita a teoria da decadência das classes sociais. Estaríamos, na atualidade, num tempo de esbatimento de contornos, em que o empreendedorismo, o conhecimento e o advento dos robôs estariam a dissolver o mundo do capitalismo e as classes que Karl Marx estudou.
Nesse novo quadro, todos nós faríamos parte de umha massa social multiforme, sem perfis claros e formada por infinitas microidentidades. Por isso nom daria para adaptar a nossa realidade ao grande relato tradicional da esquerda, aquele que propunha a superaçom do capitalismo e a construçom de um mundo qualitativamente novo, justo e igualitário. Lembram?
Para a nova esquerda hipster, faltaria inclusive o sujeito que, na conceçom «clássica», deveria liderar o processo revolucionário. Agora seriam todo pobres, minorias, classes médias, ricos e elites, com o nível de renda, os hábitos culturais ou mesmo a autoconsideraçom a situar cada qual num ou outro estrato social, de maneira «líquida». Já nom haveria lugar para aquela luita polo poder, só para as campanhas contra a pobreza —através de ONGs—, pola redistribuiçom dos rendimentos —através da oposiçom parlamentar «responsável»—, e os apelos digitais contra todo o tipo de micropoderes impostos às minorias oprimidas, cuja fragmentaçom chega ao infinito (sexuais, especistas, ambientais, raciais, de consumo, religiosas, educativas, de saúde…). Todavia, qualquer ofensiva comum polo socialismo, como a que algum dia liderou a classe operária, seria inviável. Além do mais, porque iria «merecer» a classe operária qualquer prioridade ou protagonismo sobre outro coletivo ou movimento social?
Só que nom. / (Sermos Galiza)