Vários milhares de pessoas abarrotaram ontem o pavilhão Anaitasuna, de Iruñea, durante um comício em que a ANV deixou uma clara mensagem a favor da independência e do direito a decidir sobre a criação de um Estado basco. Marian Beitialarrangoitia teve duras críticas para o PNV, o NaBai, a EA, a IU e o Aralar, de quem disse que a «vaga repressiva» não teria sido possível sem a sua ajuda, e Mariné Pueyo recordou «o aval de 200.000 pessoas» para estar nas eleições
Iñaki VIGOR | IRUÑEA
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Ovação para Portu e Sarasola
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Mas a maior ovação foi para Igor Portu, Mattin Sarasola e todos os presos políticos dispersos nos cárceres franceses e espanhóis, presos que foram recordados pela alcaide de Hernani ao iniciar a sua intervenção. A sua segunda frase foi para Rubalcaba, a quem acusou de mentir «como fez o seu antecessor» à frente do Ministério do Interior espanhol, Angel Acebes.
«Passarás à história como o ministro da mentira, como o ministro da repressão, porque, como diz o ditado, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. Fizeste novamente o papel de ridículo. Em Euskal Herria [País Basco] toda a gente o sabe: aqui tortura-se, todos os corpos policiais e repressivos utilizam sistematicamente a tortura contra os independentistas bascos. E apesar de termos declarações de tortura e maus-tratos arrepiantes – acrescentou -, Azkarate, Ibarretxe e os que se intitulam como os grandes defensores dos direitos humanos limitam-se apenas a pôr em dúvida a versão oficial».
Deste modo, recordou as recentes palavras do próprio lehendakari [presidente do governo autonómico basco] no sentido de que «O Governo Basco em nenhum momento disse que tenham havido torturas», e acrescentou em euskara: «Muito obrigada, Ibarretxe, pela clarificação».
«Daqui não passam»
Depois de recordar que no próximo mês de Fevereiro se cumprem os 27 anos da morte por tortura de Joxe Arregi, Beitialarrangoitia disse que «chegou a hora de dizer `basta!' a este estado de excepção, de dizer `daqui não passam' e de colocar um limite à ideia de que `vale tudo' contra Euskal Herria».
As palavras da porta-voz independentista foram seguidas de gritos de «Jo ta ke irabazi arte» por parte dos assistentes que abarrotaram o pavilhão Anaitasuna. Continuando, a representante da esquerda independentista acusou o PNV, o NaBai e o PSOE de «querer blindar» a actual situação e de preparar «uma nova fraude sob o amparo da Constituição espanhola, com o claro objectivo de manter a partição territorial de Euskal Herria e negar ao povo basco a decisão sobre o seu futuro político». «Para poder levar a cabo esta fraude em Navarra – acrescentou -, o PSOE foi buscar um aliado necessário: o Nafarroa Bai, por ser um agente na linha do PNV. O NaBai ajudá-lo-á a manter a actual situação e convergem na intenção de acabar com a esquerda abertzale [independentista]».
Marian Beitialarrangoitia assinalou neste contexto político a «vaga repressiva» dos últimos meses e os intentos de ilegalização da ANV. «Queremos deixar claro – afirmou - que a maré repressiva que estamos a viver não teria sido possível sem a ajuda do PNV, do NaBai, da EA, da IU e da Aralar». A todos estes partidos acusou de «terem demonstrado que estão dispostos a continuar a aceitar todos os ataques contra os direitos de Euskal Herria» e de «não fazerem nada, como até agora», para evitarem a ilegalização de partidos políticos bascos.
«Não esperávamos outra cousa», acrescentou, para concluir com um apelo à resposta contra as agressões contra os direitos do povo basco.
«Esta é a proposta que acabamos de pôr em cima da mesa, uma proposta realista que pode devolver a palavra e a decisão, aqui e agora, às cidadãs e aos cidadãos de Euskal Herria, em geral, e aos de Nafarroa. Uma proposta que possibilita a criação de um marco democrático como forma de transição, composto por duas autonomias. E essa proposta será a nossa oferta para as próximas eleições», anunciou na sua intervenção a representante da ANV.
Pouco antes de finalizar o acto político da ANV em Iruñea, fez-se um apelo à organização «bairro a bairro e localidade a localidade» para fazer frente à vaga repressiva, ao mesmo tempo que se deixou o aviso de que «a repressão pode intensificar-se nas próximas horas e nas próximas semanas».
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Erauskin acusa o PSOE de «preparar o terreno» para justificar a ilegalização
A parlamentar da Ezker Abertzalea, Nekane Erauskin, acusou ontem [12/01] o Governo do PSOE de «estar a preparar o terreno pouco a pouco, mediante declarações e manipulações», para «justificar a decisão política» de ilegalizar este partido e a ANV. Erauskin sublinhou as ameaças de ilegalização «dentro da estratégia que têm o PP e o PSOE para este povo, que não é outra senão a do totalitarismo, da repressão, das ilegalizações e da recalcação de direitos». «Não têm vontade de solucionar o conflito por vias políticas -declarou à Rádio Euskadi -, e por isso estão a preparar o terreno para tomar as decisões políticas que vão tomar. Logo não digam que são decisões judiciais».
Por seu lado, Gaspar Llamazares apelou ao Governo de Zapatero a que «não tome decisões apressadas e sem consenso, unicamente por interesse eleitoral ou arrastado pelo extremismo do PP», e José Bono (PSOE) disse ter a «intuição» de que os integrantes da ANV são «cúmplices e encobridores» da ETA e assinalou que lhe agradaria a sua ilegalização.
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Apresentados os cabeças de lista para as eleições
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Mariné Pueyo, actual conselheira [vereadora] da ANV em Iruñea, assegurou com voz firme que, «apesar de todos os obstáculos, repressão e ilegalização, a EAE-ANV estará presente nas eleições de Março».
«Temos o aval de 200.000 pessoas -recordou Pueyo -, a legitimidade outorgada nas eleições anteriores por 200.000 bascos e bascas, e porque somos a única força política que quer uma verdadeira mudança para o nosso país, e porque somos o único partido que tem uma oferta política de esquerda».
A conselheira abertzale destacou que todos os ataques que se estão a fazer há meses contra a esquerda independentista não os moverão «nem um pouco» do caminho empreendido. «Temos a firme determinação de estar presentes nos próximos comícios e levar o clamor da independência às urnas, porque o consideramos um acto de responsabilidade para com os compromissos firmados com o nosso povo. Porque às eleições de 27 de Maio – recordou - apresentámo-nos com um objectivo claro: para dar um sim rotundo ao processo democrático, para dizer sim à mudança política e para construir uma Euskal Herria pela esquerda».
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«Em Março – concluindo a sua intervenção -, o País Basco tem que dar um não inequívoco à Constituição espanhola, um não à Constituição que permite continuar com a partição e negação do nosso povo, um não à Constituição que encarcera os direitos de Euskal Herria, e um sim rotundo à independência».
Fonte: Gara