quinta-feira, 8 de maio de 2008

Julgamento contra Gestoras Pró-Amnistia e Askatasuna: presidente do tribunal impede relatos de tortura

Começaram hoje a prestar declarações na Audiência Nacional espanhola as catorze testemunhas propostas pela defesa. Martxelo Otamendi, Arantxa Lasa, Usoa Esteban, Goreti Ormazabal, Edurne Brouard, Jose Campos e Unai Romano relataram os seus casos e deixaram bem claro como o movimento pró-amnistia lhes deu o apoio e a ajuda que não receberam das autoridades.

Torturas

Quando Martxelo Otamendi expôs no tribunal as torturas a que foi sujeito, a juíza presidente, Teresa Palacios, fez questão de o interromper a todo o momento e, depois de afirmar que não estava interessada em saber se tinha sido torturado ou não, ordenou-lhe que se limitasse a precisar a sua relação com os membros das Gestoras e da Askatasuna.
Por seu lado, Usoa Esteban recordou que o movimento pró-amnistia lhe deu aconselhamento depois da detenção do seu irmão Esteban, e que a ajudou a dar a conhecer e a denunciar as duras condições de vida a que ele esteve sujeito durante os anos que passou na prisão, assim como a falta de assistência médica, que estaria na base da sua morte, poucos meses depois de ser libertado, já com um cancro terminal.
A terceira testemunha a comparecer foi Arantxa Lasa, irmã de Joxean Lasa, sequestrado e torturado até à morte pelos GAL, em 1983, juntamente com Joxi Zabala. Lasa contou que, após o desaparecimento dos dois jovens, não sabiam a quem recorrer, tendo contactado com Juan Mari Olano, isto depois de as autoridades francesas se terem afastado do caso, alegando que se tratava de dois cidadãos espanhóis, e tendo em vista que o Parlamento de Gasteiz tinha feito o mesmo, com o argumento de que, como o rapto tinha acontecido em solo francês, não podiam fazer nada. Nesse estado de total desamparo, as Gestoras apoiaram-nos e ajudaram-nos a fazer uma denúncia pública do ocorrido.
Goreti Ormazabal, irmã de Juan Mari Ormazabal, “Tturko”, morto num tiroteio da Ertzaintza em Bilbau, em 1991, relatou que, quando ficaram a saber, através da rádio, que tinha havido um tiroteio no Parque Etxebarria, o movimento pró-amnistia os ajudou a dar os primeiros passos, no meio do “desamparo, da confusão e da impotência” que sentiam devido ao silêncio das autoridades. Com a intermediação do organismo anti-repressivo, puderam confirmar que a pessoa que tinha falecido no tiroteio era o seu irmão, e, para além disso, falar com o médico-legista, que lhes confirmou que se tinha tratado de uma emboscada e que “Tturko” tinha sido morto quando já estava deitado no chão.
Edurne Brouard, filha do dirigente abertzale Santi Brouard, morto pelos GAL no seu consultório de pediatra em 1984, contou que foi nessa altura que iniciou a sua relação com o movimento pró-amnistia. No momento em que Brouard começou a relatar o sucedido com o seu pai, a presidente do tribunal ordenou-lhe que se cingisse à explicação da sua relação com o movimento pró-amnistia. Então, Edurne afirmou que esse movimento colaborou com ela na denúncia da morte do seu pai, impulsionando diversos actos de protesto, uma vez que “não há ninguém na prisão por causa do seu assassinato”. E acrescentou que, dessa forma, se pôde reunir também com outras vítimas do “terrorismo de Estado”. Já Teresa Palacios insistiu que “não se está a julgar a política do Estado”, mas sim as actividades do movimento pró-amnistia, e instou as testemunhas a falarem apenas sobre esse aspecto. O julgamento será retomado na próxima segunda-feira.

Fonte: Gara