José Ramón Aranguren tem 69 anos e expressa-se em castelhano. A sua neta, Amets, tem 9 e respondeu-lhe em euskara, aquando da celebração da edição de 2007 do Nafarroaren Eguna [Dia de Navarra], junto ao Monumento aos Foros de Iruñea [Pamplona], e promovida pela Fundação Orreaga. O avô pôde assim ver como rejuvenesce a Nafarroa euskaldun [de língua basca], que anseia por liberdade e resiste a cinco séculos de conquista.
«Gu gaurko euskaldunok» [Nós, os Bascos de hoje]. Dos que inscreveram este lema no Monumento aos Foros há 100 anos aos que se reuniram nesse lugar para celebrar o Nafarroaren Eguna. Dos que combateram em Orreaga (1) aos que integram a fundação com o mesmo nome e que promovem este encontro anual. Do tetravô de José Ramón Aranguren – euskaldun de Elo (Monreal) – à sua neta – também euskaldun, de Iruñea. São elos de uma cadeia que nunca se interrompeu, apesar de todos os pesares, desde a invasão castelhana de 1512 ao decreto do euskara ou à Lei de Símbolos (2), dos primeiros anos do século XXI.
A cadeia dos navarros euskaldunes e livres resistiu aos embates da história, muito duros durante o século passado e também nos alvores deste. Aranguren é um bom exemplo. Nasceu erdaldun [aquele que não fala basco], ao contrário do seu tetravô e da sua neta. E, aos 69 anos, estava a ser julgado na Audiência Nacional por ter dado força a um projecto jornalístico também euskaldun e livre (3). Mas no Nafarroaren Eguna quis passar uma mensagem de optimismo, sustentada no diálogo entre o avô, de fala castelhana, e a neta, euskaldun. Tanto ele como ela desejaram que as últimas décadas “não tenham sido mais do que um pesadelo: três gerações a perder a nossa fala e outras três a recuperá-la”. E, antes de receber o galardão de Orreaga, o veterano militante abertzale deixou outra mensagem de grande alcance: “Só podemos dar algo ao mundo se continuarmos a ser Navarros, quer dizer, Bascos livres. Caso contrário, não existiremos”.
O euskara e a história
Este rejuvenescimento assenta em duas bases: o euskara e a história. Aquando da última celebração do Nafarroaren Eguna, a 3 de Dezembro de 2007, ouviu-se a lingua navarrorum com bastante intensidade, na Zona Antiga e sobretudo no Sarasate Pasealekua. Logo desde o palco, o bertsolari Iñigo Ibarra deixou as coisas bem claras: “Hizkuntzatik etorriko da Nafarroaren garaipena” [É a partir da fala que surgirá a vitória de Navarra]. A outra pedra angular é a história, e, neste aspecto, a Fundação Orreaga tem muito a dizer. Na sua década de existência, também contribuiu com a sua parte para dar a conhecer factos como os de 1512 (4). Hoje em dia, nem sequer o Governo de Miguel Sanz (5) nega a evidência da invasão, ainda que tente adocicar a realidade. Num folheto de propaganda com o título «Milénios de convivência», utiliza-se esse termo e também o de conquista. A UPN evidencia aquilo que já não se pode ocultar. Prevê, inclusive, a realização de actos de lembrança dos 500 anos da perda da independência.
(1) Batalha de Orreaga, mais conhecida na história e nas lendas como Roncesvalles, na qual as tribos bascas destruíram a retaguarda do exército de Carlos Magno, em 778. Aqui perderia a vida Roldão, paladino que estaria no centro da célebre canção de gesta La Chanson de Roland, do séc. XII.
(2) Que instituiu a proibição do uso da ikurriña em edifícios institucionais navarros e a aplicação de coimas aos municípios que o permitissem. Sem sucesso, em tantos e tantos casos, diga-se.
(3) Era um dos muitos acusados no Processo 18/98, no seu caso por ter sido vice-presidente da Orain, editora do diário Egin. Foi afastado do Processo por motivos de saúde, para ser julgado à parte.
(4) Basicamente, os relacionados com a invasão e o início da ocupação de Navarra por Castela e Aragão.
(5) O da Comunidade Foral de Navarra.
Fonte: Nabarralde