domingo, 1 de fevereiro de 2009

A D3M sublinha a aposta em defesa de um marco democrático

Ontem à tarde, em Donostia, o Kursaal encheu-se de gente para assistir à apresentação da plataforma D3M, cujos candidatos foram ovacionados de pé pela assistência, quando subiram ao palco, no final do comício. Idoia Ibero e Itziar Lopategi realçaram que o seu objectivo é “alcançar um cenário democrático”.

Os milhares que encheram o grande auditório do Kursaal donostiarra receberam com gritos de Presoak kalera, amnistia osoa [os presos para a rua, amnistia geral] as imagens que se projectaram num ecrã gigante sobre a operação policial que enviou para a prisão oito pessoas ligadas à D3M. A lembrança fez-se extensiva a “todos os presos políticos dispersos por prisões espanholas e francesas”, segundo referiu a apresentadora de um comício que se durou quase uma hora e meia e terminou com as pessoas em pé a cantarem o «Eusko gudariak».

A primeira candidata a intervir foi Idoia Ibero, cabeça de lista por Gipuzkoa, que realçou que o objectivo da D3M é “lutar pela consecução de um marco democrático no qual se respeitem os direitos de todos os cidadãos” e “todos os projectos políticos tenham lugar”.
Em primeiro lugar, Ibero acusou o PNV de “cumplicidade” com o Estado espanhol no momento de “impor o quadro constitucional”, bem como de tentar “acabar com o independentismo”.

Depois de recordar que “este país conta com demasiados anos de violação de direitos, imposições e sofrimento”, disse que o PNV “tem medo da mudança porque não quer perder o poleiro e a negociata”. Neste sentido, recordou os casos do Museu Gugenheim, da Tesouraria de Irun, dos “projectos mercantilistas” como o TGV e outros casos de “corrupção política”.
“O PNV quer enterrar Lizarra-Garazi e continuar com o controlo das instituições, mas tem medo de perder a sua hegemonia. Para Urkullu, Erkoreka, Bilbao e outros, o assunto da consulta é uma trivialidade, e também não lhes importa que milhares e milhares de bascos vejam os seus direitos políticos suprimidos”, acrescentou. Idoia Ibero mostrou-se convencida de que este ano “a Primavera chegará antes de dia 1 de Março” e de que “é chegada a hora da independência”.

«Pelos direitos nacionais»
Em seguida, num momento em que no ecrã gigante se projectavam imagens do recente massacre israelita em Gaza, vários txikis [pequenos] vieram até ao palco com uma bandeira em que se inscrevia o lema Euskal presoak eta iheslariak etxera [os presos e os refugiados bascos para casa], enquanto um grupo de dantzaris interpretava um aurresku e se ouvia o «Hator, hator» ao som do txistu [flauta basca], cantado pela assistência.

Itziar Lopategi, cabeça de lista pela Bizkaia, falou em seguida para recordar as mais de 47 000 assinaturas recolhidas pela D3M para se poder apresentar às próximas eleições, e acrescentou que no 1 de Março “vão ter que contar milhares e milhares de votos a favor de um marco democrático”. Face aos que acusam esta plataforma de ser um “sucedâneo da ETA na sua frente institucional, quando há poucas semanas garantiam que esta organização ia propor a abstenção e o boicote”, Lopategi afirmou que “a D3M é realmente a continuidade, mas a continuidade na defesa dos direitos nacionais do povo basco, na luta por um cenário sem violência e por uma paz baseada no respeito pelos direitos de todos os cidadãos”. “Jamais iremos deixar que essa chama se apague”, afirmou, face aos “que dizem que as ideias têm que ser defendidas nas instituições e ao mesmo tempo nos impedem aí estar”.

Nesta mesma linha, realçou que o que está em jogo nas eleições de 1 de Março “não é quem vai estar no Governo, quem vai ocupar Ajuria Enea, o PNV ou o PSE”, mas abrir um ciclo político e “elaborar a tessitura que permita a Euskal Herria contar com um marco democrático, para que três milhões de cidadãos possam decidir, de vez, o seu futuro em liberdade”.
Interrompida em várias ocasiões pelos aplausos da assistência, Itziar Lopategi mostrou-se convencida de que este novo marco político é “irreversível”, e defendeu a presença de “todos os agentes políticos” na definição deste “cenário democrático”.

A cabeça de lista pela Bizkaia disse que “há que evitar que alguns apresentem um novo prato com todos restos acumulados nos últimos anos”, e destacou que esta plataforma eleitoral tentará dar resposta aos “que procuram mercantilizar parte da sociedade em benefício próprio” e aos “que respondem com violência e repressão” e pretendem conduzir a esquerda abertzale para uma situação de “apartheid político”.
Itziar Lopategi continuou a sua intervenção incidindo na ideia de que a D3M aspira também a ser uma referência “para outro modelo de sociedade, um modelo em que haja uma divisão justa da riqueza, igualdade real entre homens e mulheres, uma revalorização da classe trabalhadora face ao capital que a espreme e explora, e uma democracia em que se respeitem todos os direitos”. “Nós queremos ser uma referência no compromisso por uma mudança real. Apostamos numa Euskal Herria muito diferente da que eles defendem, e cremos que é possível alcançá-lo”, afirmou a candidata abertzale, entre os aplausos do público.

Antes de concluir, a candidata desta plataforma pela Bizkaia teve enviou uma saudação para os “nossos companheiros detidos”. A grande ovação que se ouviu nesse momento por parte de todos os assistentes ao acto interrompeu de novo a sua intervenção, que retomou “enviando-lhes desde aqui nosso ânimo” e dando por certo que “vamos estar nas eleições”.
“Apesar do Estado de excepção em que vivemos, no próximo dia 1 de Março vai haver milhares e milhares de votos abertzales para passar desta democracia zero para uma democracia para três milhões de cidadãos”, concluiu.

Subida ao palco
Depois de recordar Amparo Lasheras, cabeça de lista por Araba que se encontra encarcerada, os candidatos que conformam as listas da D3M subiram ao palco no meio de uma grande ovação por parte da assistência, de pé.
Por fim, todos cantaram o «Eusko gudariak» e por volta das 19h deu-se o comício por encerrado. Muitos dos presentes, contudo, ainda tiveram de suportar os controlos da Guarda Civil no regresso a casa.

Iñaki VIGOR

Controlos
Muitas das pessoas que acorreram ao acto de Donostia tiveram que passar pelos controlos que a Guarda Civil instalou em Durango e Zarautz, e nos quais mandou parar autocarros e automóveis – especialmente de gente jovem –, perguntando-lhes de onde procediam.


Agentes sociais, culturais e desportivos, com a D3M
Cerca de 40 pessoas, conhecidas pelo seu trabalho em diferentes organismos sociais, bem como no âmbito da cultura e do desporto, compareceram ontem em Andoain para expressar o seu apoio à D3M. Consideraram que o voto na plataforma eleitoral abertzale é “a forma de sair do bloqueio em que nos encontramos” e de “superar os limites que o actual quadro coloca aos nossos direitos”. “Para nós é claro que devemos conduzir este povo a um cenário democrático em que todos os projectos políticos tenham as portas abertas, incluindo o da independência”, manifestaram os presentes, entre os que se encontravam Inaxio Agirre, Julen Kaltzada e Guillermo Perea.
A plataforma D3M conseguiu 47 337 assinaturas para poder concorrer às eleições, mais do que alcançou o EH em 1998 – 45 602 – ou a Aukera Guztiak em 2005 – 31 956.

Fonte: Gara