Fermin IJURKO, pai de Hodei Ijurko, entrevistado por Iñaki VIGOR
Hodei Ijurko tem actualmente 22 anos. Se o juiz o condenar à pena de 38 anos que o magistrado pede por uma acção de kale borroka, sairia da prisão com 60 anos, em 2047. “Parece-me algo totalmente descabido, uma barbaridade”, afirma Fermín Ijurko, o aita [pai] deste jovem de Iruñea [Pamplona].
Decorreu há dias na Audiência Nacional espanhola o julgamento contra Hodei Ijurko, jovem de Iruñea que foi detido pela Polícia Foral durante a noite eleitoral de 9 de Março do ano passado. O magistrado Luis Barroso manteve o pedido da acusação de 38 anos de prisão, pena que é o triplo da que pede a acusação particular.
O seu filho Hodei foi detido há quase um ano. Que recorda daqueles acontecimentos?
Lembro-me de que foram momentos de total incerteza, de não se saber o que fazer. De manhã bem cedo, ligou-nos a advogada para nos dizer que tinham detido o Hodei e que tínhamos que estar com ela. Quando nos disse que tinha sido detido pelos forales, achámos muito estranho. Fomos logo para a esquadra da Polícia Foral e garantiram-nos que estava bem, que estivéssemos tranquilos. Ao perguntar por que o tinham detido, disseram que tinha havido um confronto entre polícias forais e um grupo de jovens. Voltámos para casa e, quando chegámos, já eles lá estavam dentro. Tinham levado o Hodei e entrado em casa com a sua chave. O nosso filho mais novo estava na cama e acordaram-no com a ponta de uma pistola. Estiveram ali três ou quatro horas, deram uma volta à casa e foram-se embora.
Que opina sobre a versão oficial que saiu sobre a sua detenção?
A versão oficial diz que os polícias forais foram atacados com cocktails molotov, que uma furgoneta policial ficou queimada e que dois agentes ficaram feridos. Contudo, não apresentaram uma única prova de que essa furgoneta tivesse ficado queimada, e até há fotografias em que aparece intacta. Quanto aos dois agentes, só ao cabo de vários meses disseram que estavam feridos. Além disso, uns dias depois um anónimo desmentiu a versão oficial. Disse que a Polícia Foral não era o alvo do ataque, constatou que nenhum cocktail molotov tinha acertado no veículo oficial e ilibou o Hodei de qualquer tentativa de atentado aos agentes.
Como reagiu quando lhe disseram que o magistrado pedia 38 anos de prisão?
Ficámos assustados, e ainda continuamos assustados. A mulher, o miúdo mais novo, eu e todos os amigos. Não é normal um pedido de condenação a 38 anos de prisão por intervir numa acção de kale borroka. Nunca houve um pedido de condenação tão elevado para este tipo de acções. A mim, parece-me totalmente desproporcionado, uma barbaridade.
Porquê um pedido de condenação tão descabido? Encontra alguma explicação?
Nós estamos convencidos de que isto é uma tentativa de silenciar a juventude basca. O Hodei também não entende a se deve semelhante desproporção. Parece-lhe uma barbaridade, um completo exagero. Acha que estão a descarregar nele.
Na semana passada decorreu a audiência oral relativa àqueles acontecimentos. Com que impressão ficou do julgamento?
A advogada defendeu-o bem e o Hodei ficou bastante contente com o modo como o julgamento tinha decorrido. O que ficou claro é que o que aconteceu a 9 de Março de 2008 não foi um atentado, e que o confronto com a Polícia Foral não foi uma coisa premeditada, mas totalmente imprevista.
Desde que foi encarcerado, o Hodei permaneceu praticamente o tempo todo em celas de castigo. Por que razão?
Quando chegou a Soto del Real, um dos funcionários pediu-lhe todos os papéis que levava. O Hodei disse-lhe que já tinha passado a inspecção e que eram coisas familiares. Então, o funcionário tirou-lhos e deu-lhe uma chapada. Chegaram logo outros oito funcionários e deram-lhe uma tareia que o obrigou a permanecer uma semana na enfermaria. Dali, levaram-no para a prisão de alta segurança de Curtis, na Corunha, onde se encontra nessa situação de castigo desde o dia 8 de Maio. É como estar numa prisão dentro de outra prisão, totalmente isolado. Estamos à espera de saber se lhe prolongam ou não o isolamento, por estes dias.
Que implica ter um filho preso a 650 km de casa?
Desde que está preso, não o deixámos de visitar um único sábado. Enquanto esteve em Madrid, percorremos cerca de 8000 km de carro, e desde que está em Curtis fizemos outros 54 600. No total, são 62 000 km, ou seja, o equivalente a mais de volta e meia à Terra. Isto dá uma ideia do que implica a dispersão dos presos bascos. Há muitas famílias que andam assim há mais de vinte anos e que em cada viagem têm de fazer 2000 km. Não restam dúvidas de que isto está concebido para castigar tanto os presos como os seus familiares e amigos.
Como se vive uma situação assim no seio familiar?
A experiência de ter um filho na prisão é muito dura, muito tensa. Aquilo que se pensa antes de mais é que não é certo que esteja preso por uma coisa assim, quando outros que mataram, mandaram matar ou roubaram grandes quantias estão livres quatro dias depois. A conclusão a que se chega é que a Justiça actua contra uns e não contra outros, em função de determinados interesses. Por outro lado, o apoio do meio familiar, dos amigos e da rua é total. Isto é o que nos dá forças para poder aguentar toda esta injustiça.
Hodei Ijurko tem actualmente 22 anos. Se o juiz o condenar à pena de 38 anos que o magistrado pede por uma acção de kale borroka, sairia da prisão com 60 anos, em 2047. “Parece-me algo totalmente descabido, uma barbaridade”, afirma Fermín Ijurko, o aita [pai] deste jovem de Iruñea [Pamplona].
Decorreu há dias na Audiência Nacional espanhola o julgamento contra Hodei Ijurko, jovem de Iruñea que foi detido pela Polícia Foral durante a noite eleitoral de 9 de Março do ano passado. O magistrado Luis Barroso manteve o pedido da acusação de 38 anos de prisão, pena que é o triplo da que pede a acusação particular.
O seu filho Hodei foi detido há quase um ano. Que recorda daqueles acontecimentos?
Lembro-me de que foram momentos de total incerteza, de não se saber o que fazer. De manhã bem cedo, ligou-nos a advogada para nos dizer que tinham detido o Hodei e que tínhamos que estar com ela. Quando nos disse que tinha sido detido pelos forales, achámos muito estranho. Fomos logo para a esquadra da Polícia Foral e garantiram-nos que estava bem, que estivéssemos tranquilos. Ao perguntar por que o tinham detido, disseram que tinha havido um confronto entre polícias forais e um grupo de jovens. Voltámos para casa e, quando chegámos, já eles lá estavam dentro. Tinham levado o Hodei e entrado em casa com a sua chave. O nosso filho mais novo estava na cama e acordaram-no com a ponta de uma pistola. Estiveram ali três ou quatro horas, deram uma volta à casa e foram-se embora.
Que opina sobre a versão oficial que saiu sobre a sua detenção?
A versão oficial diz que os polícias forais foram atacados com cocktails molotov, que uma furgoneta policial ficou queimada e que dois agentes ficaram feridos. Contudo, não apresentaram uma única prova de que essa furgoneta tivesse ficado queimada, e até há fotografias em que aparece intacta. Quanto aos dois agentes, só ao cabo de vários meses disseram que estavam feridos. Além disso, uns dias depois um anónimo desmentiu a versão oficial. Disse que a Polícia Foral não era o alvo do ataque, constatou que nenhum cocktail molotov tinha acertado no veículo oficial e ilibou o Hodei de qualquer tentativa de atentado aos agentes.
Como reagiu quando lhe disseram que o magistrado pedia 38 anos de prisão?
Ficámos assustados, e ainda continuamos assustados. A mulher, o miúdo mais novo, eu e todos os amigos. Não é normal um pedido de condenação a 38 anos de prisão por intervir numa acção de kale borroka. Nunca houve um pedido de condenação tão elevado para este tipo de acções. A mim, parece-me totalmente desproporcionado, uma barbaridade.
Porquê um pedido de condenação tão descabido? Encontra alguma explicação?
Nós estamos convencidos de que isto é uma tentativa de silenciar a juventude basca. O Hodei também não entende a se deve semelhante desproporção. Parece-lhe uma barbaridade, um completo exagero. Acha que estão a descarregar nele.
Na semana passada decorreu a audiência oral relativa àqueles acontecimentos. Com que impressão ficou do julgamento?
A advogada defendeu-o bem e o Hodei ficou bastante contente com o modo como o julgamento tinha decorrido. O que ficou claro é que o que aconteceu a 9 de Março de 2008 não foi um atentado, e que o confronto com a Polícia Foral não foi uma coisa premeditada, mas totalmente imprevista.
Desde que foi encarcerado, o Hodei permaneceu praticamente o tempo todo em celas de castigo. Por que razão?
Quando chegou a Soto del Real, um dos funcionários pediu-lhe todos os papéis que levava. O Hodei disse-lhe que já tinha passado a inspecção e que eram coisas familiares. Então, o funcionário tirou-lhos e deu-lhe uma chapada. Chegaram logo outros oito funcionários e deram-lhe uma tareia que o obrigou a permanecer uma semana na enfermaria. Dali, levaram-no para a prisão de alta segurança de Curtis, na Corunha, onde se encontra nessa situação de castigo desde o dia 8 de Maio. É como estar numa prisão dentro de outra prisão, totalmente isolado. Estamos à espera de saber se lhe prolongam ou não o isolamento, por estes dias.
Que implica ter um filho preso a 650 km de casa?
Desde que está preso, não o deixámos de visitar um único sábado. Enquanto esteve em Madrid, percorremos cerca de 8000 km de carro, e desde que está em Curtis fizemos outros 54 600. No total, são 62 000 km, ou seja, o equivalente a mais de volta e meia à Terra. Isto dá uma ideia do que implica a dispersão dos presos bascos. Há muitas famílias que andam assim há mais de vinte anos e que em cada viagem têm de fazer 2000 km. Não restam dúvidas de que isto está concebido para castigar tanto os presos como os seus familiares e amigos.
Como se vive uma situação assim no seio familiar?
A experiência de ter um filho na prisão é muito dura, muito tensa. Aquilo que se pensa antes de mais é que não é certo que esteja preso por uma coisa assim, quando outros que mataram, mandaram matar ou roubaram grandes quantias estão livres quatro dias depois. A conclusão a que se chega é que a Justiça actua contra uns e não contra outros, em função de determinados interesses. Por outro lado, o apoio do meio familiar, dos amigos e da rua é total. Isto é o que nos dá forças para poder aguentar toda esta injustiça.
Fonte: Gara