terça-feira, 24 de julho de 2018
«O "homem branco autoflagelado"»
[De Manuel Loff] O que é extraordinário é que JMT julgue que, porque nenhum de nós foi esclavagista em 1718, se possa deduzir que 300 anos sejam suficientes para apagar conceitos como o da continuidade da responsabilidade do Estado, ou da acumulação de riqueza colonial vertida na economia portuguesa, ou do simples dever de, nas políticas públicas de memória (por exemplo, os museus), assumir o passado por inteiro, e sobretudo aquele que se ocultou e manipulou. E se tiverem passado só 65 anos? E se houver ainda algum português de hoje que tenha participado no massacre de são-tomenses em Batepá, em 1953, quando se revoltaram contra o trabalho forçado e o governador achou que eles eram agentes soviéticos – podemos musealizar essa história ou é autoflagelação? E se houver ainda quem, barriga cheia de cerveja, tenha feito tiro ao alvo de cima de carrinhas de caixa aberta, em 1961, nos musseques de Luanda depois da revolta do 4 de Fevereiro? [...] «A geração do pós-25 de Abril», nada tem a dizer sobre isto? Ou este é, como acha MST, «um problema deles», de quem anda a exigir falar da violência colonial, «mas não pode ser problema dos outros», isto é, «deste pequeníssimo povo, entalado entre o fim da Europa e o mar, [que] escolheu o mar como destino»? (odiario.info)
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