[De José Goulão] No meio de tão abundante matéria putrefacta não admira que haja absurdos que passam por muitos de nós como entre pingos da chuva, perfeitamente incólumes. E assim continuariam, não se dessem fenómenos estranhos e imprevistos como o do recente furto de armas – reais ou virtuais – em Tancos. Veio então à superfície uma realidade de que nem o saudoso Solnado se lembraria, no auge do nonsense, para compor a sua ida à guerra: a segurança de quartéis das Forças Armadas Portuguesas está entregue a empresas privadas.
É verdade que tais empresas são, em numerosos casos, criadas e geridas por militares na reserva; sabemos ainda que a NATO, o facho que ilumina os exércitos «libertadores» que cavalgam esse mundo fazendo guerras, recorre amiúde a subempreitadas privadas para colaborar nas agressões, às quais é confiado, aliás, muito do trabalho mais sujo de sangue.
Porém, verificar que as Forças Armadas Portuguesas, cujos comandos e os ministros tutelares tanto se orgulham das gestas além-mar e além-terras para instaurar a «democracia moderna» – por exemplo em situações exemplares como o Kosovo, a Bósnia-Herzegovina, a República Centro Africana e o Mali –, entregam a segurança dos seus condomínios a exércitos privados parece um sinal de pobreza envergonhada e pouco digna do garbo das fardas e do brilho dos sabres, das armas em geral. (Abril)