
Ontem, mais de uma centena de pessoas, incluindo familiares de Félix Arnaiz e membros da associação de vítimas do franquismo Ahaztuak 1936-1977, voltaram a salientar publicamente a necessidade da luta sem vacilações contra o silêncio e a impunidade dos crimes do regime franquista: «a validade desta luta evidencia-se diariamente, quando vemos como o silêncio que há cinco anos pairava sobre a morte de Félix e tudo o que a rodeou deu lugar ao reconhecimento público e até institucional, embora este último tenha sido fruto, como nos restantes casos de reconhecimento às vítimas do regime franquista, não da vontade das instituições e dos políticos nelas instalados, mas da denúncia e do esforço de familiares, vítimas e suas associações», disse um representante da Ahaztuak.

[Retirado, com alterações, de «Homenagem em Erromo: Félix Arnaiz, um pouco menos esquecido» (aseh)]
Os factos ocorreram no dia 2 de Agosto de 1969, por volta da uma da manhã. Um grupo de jovens cantava e divertia-se frente ao Bar Vega, ao lado da antiga estação ferroviária de Areeta. O então vice-presidente da Câmara Municipal de Getxo, que residia no local, chamou a Polícia Municipal. De acordo com testemunhas, os agentes apareceram no local «bastante alterados».
Confrontados com a situação, os jovens decidiram ir até ao Bar Pako, na Kale Nagusia, perto da Ponte Suspensa. Pouco depois, os jovens regressaram novamente às festas e, quando chegaram à passagem de nível, «apareceu numa esquina um agente da Polícia Municipal de pistola na mão», e apontou-a a um dos jovens. Este agarrou-lhe a mão de forma instintiva, conseguindo assim desviar os dois disparos efectuados pelo polícia. Foi preso de imediato e metido numa viatura policial.
Testemunhas recordam que, pouco depois de o detido ser metido na viatura, se ouviu um disparo, efectuado pelo referido polícia municipal - ao que parece, um antigo agente da Guarda Civil que vivia no bairro. «Encostou a pistola ao peito de Félix Arnaiz e matou-o», dizem as testemunhas.
Esta versão não coincide com a das autoridades - a que foi divulgada pelos jornais -, que chegaram a qualificar a morte como «acidente fortuito», dizendo que o polícia municipal tinha disparado a arma numa «disputa» com outra pessoa e que Félix Arnaiz Maeso tinha sido atingido como «mero espectador».
Depois da morte do jovem morador de Erromo/Itubaltzeta, as festas foram suspensas em sinal de luto, de protesto e solidariedade.