Nos últimos tempos, é certo que, num canal de TV nacional, esteja a passar um peça sobre os migrantes venezuelanos. Encontrar, nos mesmos órgãos de comunicação, algo do género – e, se possível, com maior qualidade jornalística – sobre os retrocessos sociais e económicos no Brasil pós-golpe, sobre a matança diária de dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos na Colômbia actual ou sobre a miséria na Argentina de Macri parece coisa do mundo da fantasia.
Já a Venezuela é certa. Distorcida, a um ritmo diário, em peças que, frequentemente, apelam às emoções, centrando-se no «lado humano e pessoal» de quem padece o fenómeno migratório, mas que, de enquadramento político e económico, pouco ou nada têm.
E sobre os nossos, a geração troikenta que passou fome ou outras necessidades aqui e acolá, não lhes ocorre nada, até porque, na versão que as nossas TV passam, para os Tugas emigrar é uma festa, uma espécie de turismo, com muitos copos, cenas filmadas em restaurantes com bons pratos e palavras novas para aprendermos, uns e outros. Uma troca feliz, um encontro. E tanto que se falava de remessas, do bom que era, como que a darem razão a quem tinha mandado a malta daqui para fora. Tudo bom, tudo indolor.
Todo o oposto dos venezuelanos, miseráveis e sofridos e fustigados pela Revolução Bolivariana. É um dia sim e o outro também, nas nossas TV. É a «crise dos migrantes venezuelanos». (Abril)
domingo, 26 de agosto de 2018
Migrantes venezuelanos, guerra económica e manipulação mediática
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