quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Argala, histórico combatente basco

[Texto originalmente publicado pela ASEH em 2005 e que agora sofreu ligeiras alterações e emendas] Argala foi um dos homens mais carismáticos e decisivos na história da ETA. Morreu a 21 de Dezembro de 1978, depois de uma bomba colocada debaixo do seu carro, em Angelu (Lapurdi), ter explodido. A data escolhida e o procedimento utilizado vinham a mostrar a operacionalidade e ideologia dos grupos parapoliciais, que quiseram dar o seu selo cinco anos depois da morte de Luis Carrero Blanco.

José Miguel Beñaran Ordeñana nasceu em Arrigorriaga (Bizkaia), em 1949. Depois de uma infância e adolescência marcadas pelo ambiente social do franquismo, Argala entrou na ETA com outros jovens do seu grupo. Em 1968 e como consequência de umas detenções, José Miguel Beñaran abandonou a sua localidade, tendo-se refugiado em Oñati (Gipuzkoa) durante bastante tempo e adoptado o nome de Iñaki. Exilado depois em Iparralde (País Basco Norte), participaria activamente na futura evolução da organização armada. Nesses anos de intensidade dialéctica, Argala fez célebre a frase de seu próprio cunho: «Eu discuto com todos, intelectualizo os militares e militarizo os intelectuais».

Em Dezembro de 1973, José Miguel Beñaran Ordeñana, agora com o nome Fernando, encontrava-se em Madrid, com os outros membros do Comando Txikia. Recorde-se que Argala foi o militante que pressionou o botão que detonou a bomba que matou Carrero Blanco, previsível sucessor de Franco. O atentado espectacular deu mais uma machadada no regime fascista e acelerou o processo de derrubamento do franquismo. Argala era o militante metódico e disciplinado que transparecia de modo natural a sua imensa qualidade humana. Viveu de forma intensa a sua clandestinidade. Adorava discutir, jamais fazia concessões, sustentava os seus argumentos com grande solidez e sempre de frente. Captava rapidamente os erros dos seus oponentes, ganhando a discussão com rapidez. De qualquer forma, fazia-o desde uma postura honesta, discutia sem descanso até equilibrar as posições, independentemente de quem tivesse o ponto de análise mais correcto.

De novo em Iparralde, participaria na reestruturação da ETA. No seio da organização armada havia divergências quanto a mudanças internas e, fundamentalmente, quanto à análise do futuro político. Argala jogou aqui um papel determinante, em duplo sentido: analisando as consequências da queda do regime franquista e as mudanças que se avizinhavam, e estudando o desdobramento para abarcar todas as frentes de luta sobre um novo modelo orgânico, deixando para a ETA o campo militar. Desta forma constituía-se em Novembro de 1974 a ETA militar, e a análise realizada por José Miguel Beñaran ficaria marcado num manifesto que se publicaria nos últimos dias desse mês.

Em Outubro de 1976, Argala casou-se na ilha francesa de Yeu, onde estava deportado, com Asun Arana, cujo companheiro, Jesús Mari Markiegi, havia sido morto numa emboscada policial em Gernika, em 1975. Depois de abandonar Yeu, alugaram uma casa em Angelu (Lapurdi). Quando se produziu a sua morte, a Polícia bloqueou e proibiu a entrada na sua terra natal, Arrigorriaga. Como protesto pelo cerco, uma assembleia popular decidiu que todos os habitantes se fechassem em suas casas e que acompanhassem o cadáver só a mãe, os irmãos e os companheiros. Duas pessoas que levavam a bandeira do KAS abriram um pequeno cortejo que avançava lentamente perante o cordão policial. Um punhado de militantes, familiares e amigos foram os últimos testemunhos da última viagem de Argala. (ASEH)

Leituras:
«Argala» (marxists.org)

«Prólogo ao livro de Jokin Apalategi, Nationalisme et question nationale au Pays Basque, 1830-1976 (1977)» (BorrokaGaraiaDa)

«Argala 1978–2016: en la sección MEMORIA de Mugalari esta entrevista realizada unos años atrás con dos hermanos de Argala» (BorrokaGaraiaDa)