Há 633 anos, a regente Leonor Teles, numa fuga desesperada para Alenquer, prometia esmagar a Revolução queimando Lisboa com «mau fogo», ará-la a carros de bois e encher tonéis com as línguas das mulheres revolucionárias. A redoma de silêncio que cobriu a Revolução quase faz crer que se cumpriu o vaticínio de Leonor. Porque se calaram as vozes de 1383? Quem mandou cortar as línguas dos sublevados de Lisboa?
Compreende-se o desconforto que a Revolução inspira na actual classe dominante: a geração de Soares dos Santos, Américo Amorim e Ricardo Salgado tem mais em comum com os senhores feudais parasitários que, em 1383 se passaram para o lado de Castela do que com a burguesia revolucionária de Álvaro Pais, Gil Fernandes e Álvaro Coitado, construtores conscientes do capitalismo embrionário a que Fernão Lopes chama a Sétima Idade do Mundo «na qual se levantou outro mundo novo e nova geração de gentes, porque filhos de homens de tão baixa condição». (manifesto74)