quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Alarme Social

A saída da prisão de Iñaki De Juana desatou as iras de uma parte da sociedade espanhola, incitada e dirigida desde os meios de comunicação encarregues de gerar o “alarme social” suficiente para que uma judicatura alinhada com as filas do nacionalismo espanhol mais integrista retroceda e retome a caçada ao ex-preso donostiarra.

O assunto merece, sem dúvida, um bom número de reflexões em torno, por exemplo, do papel dos meios de comunicação e do mecanismo, simples mas eficaz, de criação de estados de opinião tão vaporosos como o “alarme social”. E sobre a responsabilidade que isso deveria implicar.

Mas hoje são outras as minhas inquietações. A Iñaki De Juana, querem-no voltar a meter na prisão por ter escrito que houve um grande homem e grande amigo seu em Arrasate. Diz o juiz que se referia a Txomin Iturbe. E, embora não o possa demonstrar, o que é que isso interessa? Mais ainda, por que não pode opinar Iñaki De Juana – e seguramente dezenas de milhares de outros cidadãos – que Txomin Iturbe foi um grande homem? Como cercear o que apenas corresponde à própria consciência? Por se ter integrado na ETA quando muitos de entre os “alarmados” ostentavam altos cargos e graves responsabilidades numa ditadura que matou centenas de milhares de pessoas? Por ter procurado – mesmo a partir do seu degredo argelino – negociar para pôr ponto final ao conflito que ainda hoje nos sacode todos os dias? Pois eu tenho uma resposta: porque Iñaki De Juana e Txomin Iturbe pertencem a um povo alheio a esses juízes. Porque num tribunal especial para Bascos se aplica o código penal do inimigo. E por mais nada.

Quantas homenagens a Galindo? Quantas a Franco? E a Vera ou a Barrionuevo? Lembram-se da faixa de general que Belloch colocou ao processado que deu ordens para sequestrar e matar Lasa e Zabala? E a suculenta pensão que cobram aqueles que dispararam em Bussot? E os indultos sistemáticos aos torturadores? Quantas ascensões na carreira para os que mataram Joseba Arregi? Há muitas perguntas mais, mas a resposta a todas é bem conhecida.

Martin GARITANO

Fonte: Gara