segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Na sequência do ‘apartheid’ e da rapinagem: «Ondarroa, a escuridão gera insubmissão»

Tasio_Gara (OndHARROa / Harro = Orgulhosa)

Ondarroa, sem o querer nem o pretender, converteu-se em foco de atenção para além dos seus limites municipais. Não é ao acaso que reproduz à escala local uma boa parte dos ingredientes do conflito nacional: uma localidade que elege democraticamente os seus representantes; um estado absolutista que anula a decisão popular; uma burguesia colaboracionista que se presta a tornar operacional o atropelo; e uma cidadania que se revolta de mil maneiras perante semelhante desmando.

A gestora, quando usurpou a vontade dos seus conterrâneos, acreditou poder contar com uns quantos recursos para sair airosa do enredo. O primeiro seria a memória da gente: todos recordariam que o presidente da actual gestora tinha sido o primeiro governante da localidade após a ditadura. Não reparou o ex-autarca que a sua anterior gestão foi referendada pelos votos e que, na actual, se apropriou do cadeirão municipal que as urnas lhe negaram. O segundo recurso com que a gestora contava era o oposto: a falta de memória da gente do lugar. Já o insinuaram com frivolidade nos dias do assalto: “de momento as águas andam revoltas, mas trata-se de remoinhos passageiros; com o tempo voltará a calma”. Parece que os “gestores” não acertaram nos prognósticos. As suas declarações posteriores, segundo as quais as águas estavam a amansar, eram mais um reflexo dos seus desejos que da realidade municipal; passaram muitos meses e, a julgar pelas notícias, a indignação dos cidadãos mantém-se tão afiada como no primeiro dia. A gestora tentou seduzir os rebeldes (como o PNV gosta da sedução!) arranjando o passeio a Saturraran. Tentativa vã; os arruinados teimam na sua e não irão ceder nas reclamações até que lhes devolvam o cadeirão. Outro estratagema que a gestora utilizou foi o muito madrugar. “Convocaremos sessão plenária quando o povo estiver a dormir ou a preparar-se para ir trabalhar”. Nova previsão fracassada. Os estafados (ai que tormento!) apareceram naquelas horas temporãs acusando-os de “ladrões” e “espanhóis”. Recorrer à polícia? Como solução de emergência, fosse; mas ter que assinar os editais municipais flanqueado por dois gorilas era assim um tanto para o feio. A gestora mudou de lugar para realizar as sessões plenárias, mas a sua transumância também não resolveu o problema. Pior ainda, à gente espoliada deu-lhe para a desobediência civil: “se não temos direitos, também não temos obrigações”. E, estabelecido tal princípio de democracia básica, deixaram de pagar impostos. Os gestores, muito ao estilo peneuvítico [do PNV], confiaram em que uma agência executiva metesse os insubmissos na linha. Adjudicaram tão dificultosa tarefa à única empresa que se apresentou. Mas a Gesmunpal, depois de ouvir os habitantes, renunciou à concessão, mostrando bastante mais sensatez e responsabilidade que os adjudicatários.
Sr. Arambarri, deixe-se de biscates e saia do labirinto pela única porta que conduz a uma solução razoável. Devolva o cadeirão aos seus donos e a paz aos seus conterrâneos. Os factos mostram que a tenacidade e a coerência de Ondarroa não admitem falsos arranjos. Seria penoso acabar a sua vida política como um capitão de corsários.
Jesus VALENCIA
[educador social]

Fonte: Gara