segunda-feira, 11 de agosto de 2008

As festas do gelado e dos fogos de artifício... e dos Piratak

“Iruñea tem as peñas; Bilbau, as comparsas; e Gasteiz, os blusas. Mas, o que é que tem Donostia?”. Embora hábil, a questão colocada por uma jornalista a Odón Elorza há quatro anos não chegou para fazer corar o autarca de Donostia. Mostrar-se-á seguramente reconfortado quando, como acontece cada ano desde há mais de um século, vir como o diário Abc traz para a primeira página o arranque “das maiores festas de Espanha”. Aquele era o segundo ano em que, apesar dos contínuos entraves colocados pelo Município, os Donostiako Piratak ofereciam uma alternativa a milhares de cidadãos que renegam umas festas elitistas organizadas por empresas privadas e que não dão espaço à participação da cidadania. Tudo isso, apesar das “barraquinhas” municipais criadas ad hoc para ser “a melhor cidade” em tudo; sempre para que se veja e repare.

Desde que os Bourbons escolheram Donostia, nos finais do século XIX, como destino de férias, aquela cidade que apenas contava com muralhas e areia por todo o lado começou a promover o elitismo. Com as idas e vindas de Franco, o quartel de Ondarreta enchia-se de donostiarras rebeldes; agora, mais de 30 anos depois da sua morte, os que continuam a rebelar-se perante o estabelecido permanecem desprezados.

Seguramente, naquela entrevista Elorza não imaginava a dimensão e o potencial que iria adquirir aquela “abordagem” à Kontxa [ou La Concha], que cativou, e continua a entusiasmar, milhares de donostiarras e guipuscoanos. Embora sem grandes apetites, amanhã o autarca também terá que o reconhecer.

Apesar de a memória de muitos não guardar já as excitações que se viveram com o arrebatamento das txosnas, o alcançado pelos Donostiako Piratak não é de pouca monta: demonstraram que na capital guipuscoana também é possível realizar umas festas organizadas pelo povo e para o povo. E o Município já se apercebeu disso. Depois de dezenas de anos, a Aste Nagusia [Semana Grande] arrancou pela primeira vez num sábado, precisamente quando tinham início os eventos alternativos dos Piratak. A equipa de Elorza continua a fazer orelhas moucas ao apelo que estes jovens fizeram há muito para criar uma comissão de festas entre todos os grupos, organismos, associações e colectivos de Donostia.

O cartaz com quatro gelados a fazer de conta que são foguetes pirotécnicos volta a lembrar que, por infelicidade, as de Donostia continuarão a ser “as festas mais belas de Espanha”... para o Abc. E ainda mais com a bandeira espanhola que o PSE impôs no edifício da Câmara Municipal. Mas que não adormeça o vigia, porque esta semana poderá ser a bandeira da caveira a ondear no mastro municipal.

Gari MUJIKA

Fonte: Gara