terça-feira, 12 de agosto de 2008

Centenas de piratas conquistam Donostia para exigir umas festas populares

Às primeiras horas da manhã, os comerciantes e os empregados de hotelaria dos estabelecimentos do porto de Donostia andavam a preparar as suas lojas e esplanadas. As pessoas passeavam pela zona ou dirigiam-se para a praia, de toalha na mão. Mas havia algo que não era comum no porto donostiarra, e os transeuntes interrompiam os seus trajectos para contemplar uma imagem inédita durante o resto do ano. Jovens e mais jovens vestidos de piratas iam-se juntando, procedentes dos cinco cantos do mundo.

Como em cada mês de Agosto, de há seis anos para cá, os piratas dispunham-se a abordar Donostia, e a Aste Nagusia [Semana Grande]. Mais de mil corsários adornavam o porto com as suas bandeiras, onde se podiam ler todo o tipo de mensagens reivindicativas. Os jovens preparavam-se para montar os seus barcos, com o objectivo não dissimulado de abordar a Kontxa na parte da tarde. Tábuas, paletes, cordas, cabos de esfregonas, cones, tubos ou qualquer outro instrumento serviam para montar uma jangada. À sua volta, inúmeros curiosos contemplavam aquele espectáculo.

Depois do almoço, alguns piratas continuaram a trabalhar na sua jangada; enquanto outros se dispersaram pelos bares da Alde Zaharra [Parte Velha], onde não faltaram os copos de rum. Com a goela bem quente, às cinco da tarde estavam todos preparados no porto, e com a bandeira da caveira no mastro.

Antes de se lançarem à água, desde o barco principal, onde se encontrava Ezkila, o capitão dos piratas, felicitaram os participantes “por tornar possível que Donostia tenha umas festas populares e de tanto êxito”. Lançaram o txupinazo e gritaram: “Abordatzera!” [À abordagem!].

À saída, a canção dizia “itsasoko pirata gogorrak gara gu” [somos piratas do mar muito fortes], e assim o demonstraram na água. Embora alguns não tenham conseguido sair do porto “por problemas técnicos”, quase todos os aventureiros chegaram ao seu destino. O barco do capitão Ezkila acompanhou os piratas em todo o trajecto. A partir dessa mesma embarcação, a electrotxaranga The Txortains animava a viagem.

Pouco a pouco, as jangadas avançaram pelo mar adentro, e a expectativa aumentou na praia quando surgiram as primeiras tripulações. As duas primeiras balsas, que iam abrindo caminho, conquistaram a Kontxa e ali colocaram a bandeira da caveira, o que provocou grande euforia entre os piratas.
Poucos minutos passados e a praia era sua.

Um êxito cada vez maior

Embora a cada ano pareça que o já alcançado não se pode superar, a abordagem dos donostiarras bate recordes em cada nova edição. E assim aconteceu desta vez, já que se ultrapassou um milhar de participantes.

Em relação ao público, houve grande expectativa nos arredores do porto ao longo de todo o dia de ontem. Sobretudo na hora da abordagem, não havia um lugar vazio no molhe. O caminho que dá acesso a Urgull, e ao longo de todo o gradeamento do porto até à zona da Câmara Municipal, também estava repleto de gente. E também houve quem contemplasse todo o evento na água. Não foi menor a excitação na praia da Kontxa, com a chegada dos piratas e da electrotxaranga.

Entre os espectadores, eram tantos os miúdos como os graúdos. E é de destacar a grande presença de turistas, embora seja mais que certo que não lhes tenha chegado qualquer notícia sobre este acontecimento nos postos de informação turística. Curiosamente, o barco turístico que se dirigia para a ilha de Santa Clara, que em ocasiões como esta costuma ir cheio, circulava meio vazio.

Sacos ecológicos

Por outro lado, para a construção das jangadas, os organizadores procuraram divulgar a utilização de sacos de plástico ecológicos, de encher, em vez dos habituais bidões, “por motivos de contaminação”. De acordo com Iñaki, um dos organizadores, “as pessoas entenderam a mensagem e apoiaram a iniciativa, sendo que a maioria optou por utilizar os sacos ecológicos, em vez dos bidões”.

Para animar o ambiente no porto, e para que o trabalho de construção fosse mais ameno, os piratas montaram uma pequena emissora de rádio no porto, um costume que vem já de anos anteriores.
Contudo, pouco depois de passarem as primeiras canções, a Polícia Municipal apareceu no local com ordens de suspender a emissão de rádio, supostamente porque “o ruído incomodava os moradores e os que estavam a trabalhar”. De acordo com os membros dos Donostiako piratak, “esse argumento é absurdo, tendo em conta que estamos na Aste Nagusia, e que ruído como esse é bastante habitual”. Como consequência, atrasaram o arranque da programação até às 14h, e durante a tarde não foram colocados mais obstáculos à animação.

Janire ARRONDO

Fonte: Gara