O PSOE confirma que está negociar um acordo com o PP sobre medidas contra ex-presos_(cas)
Iñaki de Juana e alguns dos seus mais próximos chegaram a Euskal Herria depois do meio-dia. Na rua Ikatz, da Parte Velha de Donostia, esperavam-no centenas de pessoas para lhe tributar um primeiro ongietorri [boas-vindas]. Por fim, teve lugar uma cerimónia simples, em que se leu uma carta escrita por ele já na condição de ex-preso, que recebeu uma emotiva ovação.
Na missiva, pediu desculpa pela sua ausência, devida a questões de saúde e à “pressão” que estão a exercer tanto sobre ele como sobre a sua família. Por isso, expressou a sua intenção de se retirar durante algum tempo com a família, para recuperar da greve de fome que mantinha desde 16 de Julho. Em qualquer caso, embora não lhe tenha sido possível estar presente fisicamente, disse que o seu “coração” estava com eles.
As primeiras palavras de De Juana foram para os que continuam encarcerados, e para os que “não estão nas suas casas”, como Esteban Esteban Nieto Croma, que faleceu poucos meses depois de ter sido posto em liberdade, por causa de uma doença que contraiu na prisão.
Para além disso, agradeceu o trabalho dos familiares, do Movimento Pró-Amnistia e dos que “lutam no dia-a-dia pelos direitos dos presos políticos bascos”.
De Juana denunciou também o “estado de excepção” criado pelos estados francês e espanhol em Euskal Herria, mas assegurou que “nunca poderão encarcerar, ilegalizar, torturar as nossas ideias, os nossos sentimentos”.
Às 7h20
Os advogados Álvaro Reizabal e Jone Goirizelaia, e a sua esposa, Irati Aranzabal, esperavam Iñaki de Juana quando este saiu da prisão de Aranjuez, cerca das 7h20 da manhã.
Em seguida, entraram num veículo, que arrancou dali, “escoltado” pela Guarda Civil, em direcção a Euskal Herria.
A advogada Jone Goirizelaia referiu que o donostiarra se encontra “bem”, embora “um tanto em baixo” devido à greve que iniciou a 16 de Julho.
Os GAR da Guarda Civil tinham feito chegar, desde as 5h, um amplo dispositivo aos arredores da prisão, e retiraram dali jornalistas e fotógrafos, enviando-os para uma zona mais afastada da entrada principal.
Além do mais, numerosos veículos da instituição militar, oficiais e camuflados, patrulharam as vias de acesso a Aranjuez.
Controles
A Guarda Civil também impediu que os autocarros e furgonetas que tinham partido de Euskal Herria chegassem a tempo à prisão de Aranjuez.
O autocarro que partiu de Donostia passou por três controles, o último dos quais em Boceguillas, onde os retiveram durante duas horas. Os agentes da instituição militar obrigaram todos os ocupantes a descer do veículo e, à medida que o faziam, fotografaram-nos um a um. A Guarda Civil inspeccionou tudo e revistou algumas pessoas, segundo pôde apurar o GARA.
21 anos na prisão
Iñaki de Juana foi detido a 16 de Janeiro de 1987 em Madrid. A 25 de Outubro de 2004 cumpriu a totalidade da pena imposta (17 anos e 9 meses) e, em função das redenções, deveria ter sido posto em liberdade.
Não obstante, a Audiência Nacional revogou a sua libertação e negou-se a aceitar as redenções por estudos concedidas pelo Tribunal de Vigilância Penitenciária número 3 de Madrid.
Em Julho de 2005, o tribunal especial decidiu processar De Juana, assim como o seu encarceramento sem fiança, sob a acusação de “pertença a grupo terrorista e ameaças terroristas”, por dois artigos de opinião que escreveu no GARA.
Em Junho de 2006, a Procuradoria da Audiência Nacional deu a conhecer a sua petição: 96 anos de prisão pelos dos artigos de opinião.
Primeira greve
A 7 de Agosto desse mesmo ano o prisioneiro donostiarra iniciou uma greve de fome por tempo indeterminado na prisão de Algeciras, exigindo a sua libertação e denunciando as penas perpétuas impostas pela Audiência Nacional.
A 8 de Outubro abandonou a greve, que durou 63 dias.
Depois de três semanas de recuperação, a 27 de Outubro é julgado na Audiência Nacional. A Procuradoria modificou a parte final da primeira petição. Ofereceu duas opções para que o mantivessem na prisão: treze anos por um “delito continuado de ameaças terroristas” ou quatro anos por “ameaças” e “enaltecimento do terrorismo”.
Condenado a 12 anos por dois artigos. Segunda greve
A 8 de Novembro, a Audiência Nacional condenou-o a doze anos e sete meses de prisão por entender que os dois artigos de opinião continham “ameaças veladas”. Um dia antes, De Juana empreendeu uma nova greve de fome, após ler num diário de tiragem estatal que a AN lhe ia impor a pena mais dura.
A 24 de Janeiro de 2007, quando o preso tinha já passado 79 dias sem ingerir alimentos, o magistrado da Audiência Nacional Fernando Burgos pede à Primeira Secção a transferência de Iñaki de Juana para o seu domicílio sob custódia policial permanente, com o objectivo de preservar a sua vida.
Um mês depois, a 25 de Janeiro, a Audiência Nacional decide, por dois votos contra quatro, manter De Juana na prisão.
O Supremo reduz a pena
A 12 de Fevereiro, o Supremo Tribunal revê a sentença à porta fechada e aplica outro tipo delitivo, pelo que a condenação passa de doze para três anos de prisão. A decisão sobre a sua libertação fica já nas mãos do Governo espanhol, tendo em conta que a sentença é firme.
Transferido para o Hospital Donostia
A 1 de Março, o preso donostiarra, após 115 dias de greve de fome, foi transferido para o Hospital Donostia, depois de o Governo espanhol ter decretado prisão atenuada. A decisão recebeu o aval do juiz de Vigilância Penitenciária, que estabeleceu que De Juana poderia permanecer no seu domicílio sob controle telemático até terminar a condenação. O preso acabou com a greve.
De novo em Aranjuez
A 6 de Junho, poucas horas depois de a ETA ter anunciado o fim do cessar-fogo, o Governo espanhol procedeu à transferência de De Juana do Hospital Donostia para a prisão de Aranjuez, onde permaneceu até hoje.
No passado dia 16 de Julho, empreendeu uma nova greve de fome, para responder à campanha mediática orquestrada pelo diário El Mundo contra ele e a sua família.
Fonte: Gara
[Nota: Hoje voltou a haver País Basco na TV portuguesa; volta e meia apetece-lhes, assim de tempos a tempos, quase sempre num registo pouco variado e numa abordagem temática francamente mono. Mas pouco monta, que aqui só por acaso ligamos os televisores e, quando tal acontece, apuramos a selecção. Se algum calhar ou azar nos leva a frases e expressões como “Etarra condenado a 3000 anos de cadeia sai ao fim de 21” ou “a causa etarra”, não nos escandalizamos, sobretudo quando, até há pouco, nessa mesma fonte emissora (ou cadeia de canais), era uso centrar o símbolo da ETA sobre a ikurriña, no caso de se abordarem questões relacionadas com o País Basco, quase sempre atentados. E por aqui se fica, que isto de abordagens em órgãos de teledifusão nos levaria para tanto mundo - de Euskal Herria a outras Europas, da América Latina a África, do Médio ao Extremo Oriente, só por exemplo e lembrança - e não vale o cansaço. Como diz "o outro": apaga a tv e acende a tua mente.]