segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Na homenagem a Argala, o apelo de Tasio Erkizia à esquerda ‘abertzale’


O histórico dirigente da esquerda abertzale pediu a este sector uma “reflexão” que possibilite “escolher o caminho mais idóneo, o caminho que mais danos cause ao Estado e que conduza este povo a um novo cenário democrático”.

Tasio Erkizia participou ontem na homenagem tributada ao membro da ETA falecido há 30 anos José Miguel Beñaran Ordeñana, ‘Argala’, e pediu uma “reflexão” que possibilite “escolher o caminho mais idóneo, o caminho que mais danos cause ao Estado e que conduza este povo a um novo cenário democrático”. No acto celebrado em honra de ‘Argala’, que decorreu na praça que ostenta o seu nome na sua terra natal, Arrigorriaga (Bizkaia), Erkizia assegurou, fazendo referência a textos do homenageado, que “sabemos que a luta é longa e dura” para lograr o objectivo de “um Estado socialista basco”.

Na sua alocução, que começou com um “Gora gaurko eta atxoko gudariak” (Vivam os gudaris de ontem e de hoje”), o dirigente da esquerda abertzale afirmou que se estão a viver “momentos duros”, em que “é importante ter as ideias claras” e responder-lhes “com tranquilidade e confiança”.

Referindo-se às três décadas passadas desde a morte do membro da ETA, Erkizia referiu que foram 30 anos “com muito sofrimento, com muito esforço, com muito trabalho, e também com erros, mas com uma entrega total”, nos quais conseguiram que as actuais instituições estejam mesmo em crise.

“Agora temos um grande desafio, é necessário dar mais um passo: da resistência, devemos passar à construção – sem a esquerda abertzale não há futuro de Euskal Herria e eles sabem-no muito bem –, temos uma enorme responsabilidade. É altura de reflectir, de continuar a trabalhar com confiança, mas ao mesmo tempo de reflectir, para escolher o caminho mais idóneo, o caminho que mais danos cause ao Estado e que conduza este povo a um novo cenário democrático”. “O nosso objectivo é alcançar este cenário democrático, no qual este povo tenha liberdade para decidir o seu futuro”, acrescentou.

Relativamente à situação política que se vivia no ano da morte de ‘Argala’, reconheceu que não se pôde conseguir então “uma transição democrática”, mas apenas “uma reforma do franquismo”. Contudo, advertiu, “agora volta a surgir a possibilidade de uma segunda transição”. Para Erkizia, estes “30 anos de luta valeram a pena”, porque a transição “criou uma estrutura em que Euskal Herria não existia, tendo a Constituição como pedra angular e os estatutos de autonomia e de amejoramiento como acompanhamento”.

Crise da Constituição e dos estatutos
A luta da esquerda abertzale, prosseguiu, juntamente com a de “tantos outros abertzales e socialistas deste povo que não são da esquerda abertzale, mas que estão sempre prontos para a batalha”, conseguiu “pôr a Constituição e esses estatutos em crise, deixar claro que não garantem o futuro democrático”. Sobre esta questão, denunciou a “estrutura jurídico-política” dos textos constitucional e estatutários, que apenas permite “que se esteja bem em Espanha”. “Senhores, fiquem a saber, não queremos ser espanhóis, queremos ser simplesmente bascos!”, afirmou.

Erkizia também referiu que “a luta da esquerda abertzale fez com que o ELA, o EA e o PNV “tenham reconhecido que este povo necessita de outro marco”, embora considere que a formação jeltzale “se vendeu aos interesses do Estado espanhol”. Depois do discurso de Erkizia, entoou-se o «Eusko Gudariak» (hino do soldado basco) e teve início uma marcha pelas ruas da localidade bizkaitarra.

A homenagem tributada a ‘Argala’ incluiu uma oferenda floral – realizada perante uma foto sua –, dança, bertsos, txalaparta, leitura de alguns dos seus textos e a projecção de um vídeo em que se evocou a sua trajectória de vida. A presidir ao acto esteve, para além da foto citada, um cartaz com o lema «Independentzia Sozialismoa 1949-1978» [Independência Socialismo – com os anos de nascimento e morte]. Nas imediações, tinham-se colocado grandes cartazes com sua imagem, acompanhada da frase «Aitaren etxea defenda nahi dugu. Zure bidea jarraituz» [Queremos defender a casa do pai. Seguindo o teu caminho].
Fonte: kaos.eh