Desde as suas masmorras – ali fechados vinte horas por dia – lutam, constroem e sonham. “Não vos vamos deixar ficar mal”, escrevia uma presa amiga. Será tão expressivo o nosso compromisso?
[Texto publicado no Gara a 22/12/2008 e cuja tradução queríamos aqui apresentar só hoje, dia 31/12/2008. E assim o fazemos. Zuentzat.]
Estamos à beira da grande festa. E, como toda a festa maior que se preze de o ser, chegar-nos-á carregada de celebrações e de lembranças. Saudade de tempos passados e de pessoas idas; evocação das pessoas queridas e ausentes. Neste contexto de recordações íntimas, ocuparão lugar destacado as nossas presas e os nossos presos. Não são mais um capítulo da nossa história social e política. São o epicentro de um conflito que nos afecta a todos e que, de um modo cruel, neles se visualiza. Que a nossa pequena Euskal Herria suporte o cativeiro de 780 presos políticos é um facto escandaloso e único na refastelada Europa; evidência de que França e Espanha – estados imperialistas – se homologaram em rigor com a insultada Turquia.
Os 780 interpelam-nos a todos. São um revulsivo para nós, que nos aprestamos a celebrar os iminentes festejos como se nada disto acontecesse. Ou como se acontecesse num desses países distantes e malditos que não nos importam a ponta dum corno. A brutal política penitenciária também reclama o compromisso de guias religiosos, dirigentes sindicais, líderes políticos ou activistas sociais. Encontramo-nos ante um sofrimento massivo utilizado como ferramenta política. Madrid e Paris aplicam a dispersão como um tormento para dobrar a dissidência; mecanismo de controlo social com pretensões dissuasivas e exemplares; sequestro que converte os cativos em reféns e a solidariedade dos seus familiares em delito. Cenário por onde desfilam a dignidade dos cativos, a sevícia dos seus guardiães e o compromisso – ou o desentendimento – dos restantes cidadãos; esta crua representação não admite espectadores. As 780 pessoas cativas puseram em jogo aquilo a que mais valor dão: a sua própria existência; as suas famílias pagam, semana após semana, o duro tributo da fidelidade incondicional. Umas e outras reclamam justiça e apoio. Passou o tempo das palavras ocas; quem tiver tribuna e voz, abstenha-se de apelos genéricos a princípios éticos. Os bispos deveriam denunciar esta barbárie com a mesma contundência com que condenam outros atentados. Políticos e sindicalistas, como fazem outras vezes, também agora deveriam deixar de lado as suas divergências e unir-se para repudiar a dispersão. Se demonstrassem relativamente à violência prisional a mesma contundência e determinação que utilizam face a outras violências, a política penitenciária não gozaria de tanta impunidade.
780 militantes em reflexão permanente podem trazer-nos chaves de grande utilidade para o presente e o futuro do nosso povo. Desde as suas masmorras – ali fechados vinte horas por dia – lutam, constroem e sonham. “Não vos vamos deixar ficar mal”, escrevia uma presa amiga. Será tão expressivo o nosso compromisso? Cabe-nos a nós girar as portas dos presídios. À beira da festa, uma saudação afectuosa a todos os presos políticos do mundo; ainda cativos, continuam a lutar por uma sociedade mais justa. Saudação carregada de cumplicidades e afectos para os 780 paisanos e paisanas. Delas e deles não nos despedimos. Hator etxera! [Vem para casa!] Encontrar-nos-emos no dia 3 nas ruas de Bilbau.
Jesus VALENCIA
educador social
Fonte: Gara
Zuentzat. Maite zaituztegu! Para vocês. Gostamos muito de vocês!
[Texto publicado no Gara a 22/12/2008 e cuja tradução queríamos aqui apresentar só hoje, dia 31/12/2008. E assim o fazemos. Zuentzat.]
Estamos à beira da grande festa. E, como toda a festa maior que se preze de o ser, chegar-nos-á carregada de celebrações e de lembranças. Saudade de tempos passados e de pessoas idas; evocação das pessoas queridas e ausentes. Neste contexto de recordações íntimas, ocuparão lugar destacado as nossas presas e os nossos presos. Não são mais um capítulo da nossa história social e política. São o epicentro de um conflito que nos afecta a todos e que, de um modo cruel, neles se visualiza. Que a nossa pequena Euskal Herria suporte o cativeiro de 780 presos políticos é um facto escandaloso e único na refastelada Europa; evidência de que França e Espanha – estados imperialistas – se homologaram em rigor com a insultada Turquia.
Os 780 interpelam-nos a todos. São um revulsivo para nós, que nos aprestamos a celebrar os iminentes festejos como se nada disto acontecesse. Ou como se acontecesse num desses países distantes e malditos que não nos importam a ponta dum corno. A brutal política penitenciária também reclama o compromisso de guias religiosos, dirigentes sindicais, líderes políticos ou activistas sociais. Encontramo-nos ante um sofrimento massivo utilizado como ferramenta política. Madrid e Paris aplicam a dispersão como um tormento para dobrar a dissidência; mecanismo de controlo social com pretensões dissuasivas e exemplares; sequestro que converte os cativos em reféns e a solidariedade dos seus familiares em delito. Cenário por onde desfilam a dignidade dos cativos, a sevícia dos seus guardiães e o compromisso – ou o desentendimento – dos restantes cidadãos; esta crua representação não admite espectadores. As 780 pessoas cativas puseram em jogo aquilo a que mais valor dão: a sua própria existência; as suas famílias pagam, semana após semana, o duro tributo da fidelidade incondicional. Umas e outras reclamam justiça e apoio. Passou o tempo das palavras ocas; quem tiver tribuna e voz, abstenha-se de apelos genéricos a princípios éticos. Os bispos deveriam denunciar esta barbárie com a mesma contundência com que condenam outros atentados. Políticos e sindicalistas, como fazem outras vezes, também agora deveriam deixar de lado as suas divergências e unir-se para repudiar a dispersão. Se demonstrassem relativamente à violência prisional a mesma contundência e determinação que utilizam face a outras violências, a política penitenciária não gozaria de tanta impunidade.
780 militantes em reflexão permanente podem trazer-nos chaves de grande utilidade para o presente e o futuro do nosso povo. Desde as suas masmorras – ali fechados vinte horas por dia – lutam, constroem e sonham. “Não vos vamos deixar ficar mal”, escrevia uma presa amiga. Será tão expressivo o nosso compromisso? Cabe-nos a nós girar as portas dos presídios. À beira da festa, uma saudação afectuosa a todos os presos políticos do mundo; ainda cativos, continuam a lutar por uma sociedade mais justa. Saudação carregada de cumplicidades e afectos para os 780 paisanos e paisanas. Delas e deles não nos despedimos. Hator etxera! [Vem para casa!] Encontrar-nos-emos no dia 3 nas ruas de Bilbau.
Jesus VALENCIA
educador social
Fonte: Gara
Zuentzat. Maite zaituztegu! Para vocês. Gostamos muito de vocês!
Um abraço para todos os leitores que nos acompanham e, em especial, para os que nos incentivam e acarinham. Urte berri on. Bom ano novo.