segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Os detidos pela Guarda Civil relatam torturas


Os cinco cidadãos bascos detidos esta semana pela Guarda Civil em Gipuzkoa e na Bizkaia denunciaram todo o tipo de maus tratos durante o período em que permaneceram sob incomunicação e, segundo relataram na presença do juiz, todos com os olhos vendados. De acordo com a informação transmitida pelo Movimento Pró-Amnistia, espancaram-nos sistematicamente, aplicaram-lhes o “saco”, fizeram-lhes ameaças de morte e de violação... O juiz só teve ouvidos para a acusação.

Ibai Egurrola, Amets Ladislao, Xabier Gutiérrez, Mari Mertxe Alcocer e Maribel Prieto foram levados no sábado de manhã até à sede da Audiência Nacional espanhola, depois de terem permanecido cinco – os três primeiros – e três dias – as duas últimas – sob incomunicação em poder da Guarda Civil. Depois de os interrogar, o juiz Santiago Pedraz não ligou às torturas relatadas pelos detidos e acedeu à proposta do magistrado Juan Moral, que requeria que fossem enviados para a prisão sob acusação de “colaboração com organização terrorista”.

Os cinco relataram na presença do juiz que foram torturados e que, enquanto estiveram em poder da Guarda Civil, os mantiveram com os olhos vendados, segundo informou a meio da tarde de sábado o Movimento Pró-Amnistia. Para além disso, negaram as declarações que realizaram perante os seus captores.

No caso de Amets Ladislao, a jovem referiu que esteve nua durante o tempo em que permaneceu sob incomunicação; foi espancada nas regiões genitais com algo semelhante a uma lista telefónica; aplicaram-lhe “o saco” em mais de cinquenta ocasiões, até não poder respirar; e recebeu ameaças permanentes, tanto de morte como de natureza sexual. Esta habitante de Berango chegou a perder a consciência.

Seguindo a informação difundida pelo Movimento Pró-Amnistia, a Javier Gutiérrez, também lhe aplicaram “o saco”, espancaram-no e ameaçaram-no de forma contínua.

Ibai Egurrola referiu que, além do “saco”, lhe encostaram uma pistola à cabeça, dizendo-lhe que o iam matar. Num outro momento, disseram-lhe que lhe iam aplicar eléctrodos.

Mari Mertxe Alcocer, que apresentava uma marca na cara, disse que lhe bateram bastante no rosto e que lhe atiraram água fria para cima, estando nua.

Maribel Prieto relatou que lhe batiam, lhe puxavam o cabelo e que à noite a obrigavam a permanecer de pé, para que não pudesse dormir. Houve ainda um guarda civil que ameaçou obrigá-la a fazer-lhe uma felação.

Depois de chegar a Gipuzkoa
Egurrola, Ladislao e Gutiérrez foram presos na noite de segunda-feira em Irun, depois de terem passado de automóvel de Lapurdi para Gipuzkoa. Desde o início, o Ministério espanhol do Interior relacionou estas detenções com as que ocorreram apenas umas horas antes numa localidade dos Pirinéus franceses, perto de Bagnères de Bigorre, referindo que os três tinham “escapado” ao cerco policial. Na operação conjunta da Gendarmerie e da Guarda Civil foram detidos Aitzol Iriondo, Eneko Zarrabeitia e Aitor Artetxe.

Não obstante, no dia seguinte, a ministra francesa do Interior, Michèle Alliot-Marie deu o seu aval à tese de que a polícia francesa deixou que fosse a Guarda Civil a capturar Egurrola, Ladislao e Gutiérrez. A partir de então, o Movimento Pró-Amnistia manifestou uma grande preocupação com o que lhes pudesse acontecer enquanto permanecessem sob incomunicação nas instalações da instituição militar espanhola.

Na quarta-feira a Guarda Civil deu sequência à operação, prendendo Alcocer, em Algorta, e Prieto, em Berango.

Durante estes dias, a Audiência Nacional espanhola e a própria Guarda Civil indicaram aos familiares destes cinco cidadãos bascos que lhes seria aplicado o denominado «protocolo Garzón» para evitar maus tratos. Mais ainda, na sexta-feira, o Conselho de Ministros aprovou o Plano de Direitos Humanos, que até enviou à ONU apontando que o Estado espanhol se colocava “na vanguarda mundial”. Mas, em sentido contrário ao que lhe foi repetidamente apontado pela ONU, mantém em vigor o regime de incomunicação dos detidos.

Fonte: Gara