quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O conflito não se resolve esperando

A morte do empresário azpeitiarra Inazio Uria, num atentado, levou a que destacados representantes institucionais e dirigentes políticos apelassem ontem à esperança, para que a sociedade basca mantenha o olhar posto num horizonte de paz e normalidade política para Euskal Herria, mas muitos deles sublinharam, ao mesmo tempo, que a única coisa que esperam é o desaparecimento da ETA. Essas mensagens não servirão para nada se quem as lança não é capaz de acrescentar mais do que palavras para resolver uma situação que os seus predecessores também não souberam – e em muitos casos não quiseram – solucionar.

Neste mês de Dezembro passam 30 anos sobre a entrada em vigor da actual Constituição espanhola, que não foi aprovada nas urnas pelos cidadãos de Hego Euskal Herria [País Basco Sul]. Aquele pacto entre a ditadura franquista e a tímida oposição que se apresentava como defensora dos valores democráticos marcou em grande medida os parâmetros em que agora se encontra o denominado conflito basco.

Neste mesmo mês passam 50 anos sobre o nascimento da ETA, facto que por si só deveria servir para relativizar as categóricas manifestações que ontem pronunciaram, entre outros, José Luis Rodríguez Zapatero e Juan José Ibarretxe sobre supostos frutos da luta policial contra a organização armada. Em momentos tão dramáticos como estes – questionamo-nos –, para que servem as triunfantes aparições dos ministros espanhóis do Interior após as detenções de militantes da ETA? E por que é que Alfredo Pérez Rubalcaba preferiu ontem deixar-se ficar em segundo plano?

Existem vias para conseguir que a esperança se plasme num cenário democrático em Euskal Herria, mas, para avançar por esse caminho, é necessário abandonar as folhas de rota caducadas e retomar os rumos que se foram desbravando no último processo de diálogo. É necessário que os representantes políticos – e outros agentes sociais – assumam riscos, rompam inércias e apostem numa verdadeira mudança no nosso país.

Fonte: GARA

Para mais informação sobre o atentado de ontem em Azpeitia, ver: Gara