quinta-feira, 26 de junho de 2008

Batasuna: projecto de consulta de Ibarretxe não vai às raízes do contencioso


O Batasuna criticou ontem com dureza a desfiguração que, na sua perspectiva, se quer levar a cabo com a iniciativa de Lakua sobre o direito a decidir dos Bascos, e censurou que a consulta promovida pelo lehendakari seja um projecto predeterminado que “começa e acaba” nos três territórios, excluindo Nafarroa e os territórios de Ipar Euskal Herria [País Basco Norte], e adiando o seu potencial para encaminhar a solução do contencioso político e armado. Para além disso, criticaram o facto de o projecto responder aos interesses eleitorais do PNV, de modo a colocar-se na centralidade do cenário político, depois dos últimos fracassos eleitorais que obteve.
Na comparência promovida por Xabier Larralde e Jean Claude Agerre na sede do Batasuna de Baiona, os representantes da esquerda independentista fizeram finca-pé em que os debates como o relativo ao projecto de consulta do tripartido de Lakua se devem situar no contexto político que o país vive. Uma situação marcada, em seu entender, por duas características que, por seu lado, se traduzem em duas opções para o futuro de Euskal Herria: optar por dar solução ao conflito político de maneira democrática, fazendo frente aos nós do direito a decidir e da territorialidade que prolongam o contencioso, ou repetir o esquema estatutário que foi imposto há três décadas pela mão do PNV e do PSOE.
O Batasuna entende, além disso, que os planos jeltzales [do PNV] como o «Think Gaur Euskadi 2020» [Pensa hoje Euskadi 2020] se situam dentro da segunda opção, como um complemento mais do «Plano López» [do PSE], assegurou Larralde. A força independentista chega a essas conclusões com base na análise dos “máximos” fixados nas propostas políticas que estão em cima da mesa na actual data. A esse respeito, o político de Lapurdi defendeu que “o único máximo” deve ser a livre expressão da vontade dos Bascos dos sete territórios do país.

Desvirtuar o direito a decidir

Frontalmente oposto é, no seu parecer, o outro limite “evidente”: a Constituição espanhola e “o marco constitucional que não torna possível a solução”.
De acordo com os “limites” que marcam as diferentes propostas políticas, Larralde referiu-se à iniciativa do lehendakari Ibarretxe para censurar que, de entrada, “não tem nenhuma intenção integradora, já que a sua formulação foi estabelecida de modo unilateral. Em nenhum momento se difundiu para fora do próprio PNV”.
E ainda conta com outras características censuráveis desde o prisma independentista: “É um plano que não está pensado para Euskal Herria, mas que começa e acaba em Euskadi”, pelo que não se situa num esquema para todo o país nem numa referência política para os sete territórios do país. “É evidente que a meta do PNV exclui Nafarroa e Ipar Euskal Herria”, criticou Larralde, ao mesmo tempo que denunciou que, com o exercício que Lakua concebe, “se desvirtua o direito a decidir: sete territórios e para todos os cidadãos bascos”.
Em relação a isso, Larralde trouxe à colação o procedimento do PNV durante as conversações de Loiola, nas quais alinhou com o PSOE e rejeitou a definição do direito a decidir dos cidadãos bascos. As próprias declarações que o presidente do PNV, Iñigo Urkullu, realiza a esse respeito também são outro elemento sintomático, na perspectiva do Batasuna. A força independentista entende que das palavras do político de Alonsotegi se extrai a constatação de que a formação jeltzale [PNV] aceita “o limite” imposto pela Constituição espanhola, quando afirma que não deixará de acatar a legalidade espanhola que emana dessa Carta Magna.

«Não é admissível»

Em seguida, recordou o posicionamento que defende o Governo espanhol pela boca do presidente José Luis Rodríguez Zapatero: “O direito a decidir dos Bascos não cabe na Constituição espanhola”.
Uma vez aclaradas as posições políticas de cada um, e os “limites” que promulga cada força política, Larralde prosseguiu afirmando que, como tal, concluem que a iniciativa do lehendakari Ibarretxe “se deve situar dentro dos parâmetros eleitorais” dos jeltzales. Sobretudo tendo em conta a necessidade de o PNV se reposicionar no centro do cenário político depois dos progressivos fracassos eleitorais que sofreram nas últimas eleições.
“E não nos parece aceitável brincar com a ânsia e a exigência da sociedade basca para solucionar o conflito político em função de meros interesses eleitorais. Não é admissível», censurou rotundamente o político abertzale de Lapurdi.
Além do mais, insistiu na ideia de que, “tendo em conta a importância do actual momento político, em que as duas opções de futuro para o país se encontram abertas de par em par, não é altura para partidarismos. E ainda menos quando temos a possibilidade de continuar a dar passos e a juntar forças na direcção de ganhar o direito a decidir e, consequentemente, de solucionar o conflito político”.
O representante do Batasuna mostrou-se convencido de que, “apesar de a repressão dos estados ser muito, muito dura, existe de facto a opção de conquistar o direito a decidir nos termos correctos”; é por isso que a força independentista censura de forma categórica iniciativas que pretendem encaminhar o país numa senda contrária.

Na senda da resolução

Foi neste ocasião que Larralde lembrou a Proposta para um Marco Democrático da esquerda abertzale – “que não é uma proposta para responder ao projecto político do Batasuna, mas antes à resolução do conflito político” –, sobre a qual afirmou que enfrenta de maneira real, factível e democrática os dois nós que alimentam o contencioso político e armado: o direito a decidir dos Bascos e a territorialidade.
Agir com responsabilidade política. Foi a acção que Larralde defendeu para este contexto político e aquilo que esquerda independentista irá concretizar em todos os momentos. “Enquanto alguns preferem agir neste cenário político de acordo com interesses partidários e com o propósito de manter o poder, nós dizemos que iremos actuar com responsabilidade, tendo o futuro de Euskal Herria como referente, e de acordo com os interesses do país, que é o que marca a nossa actuação política”.
Notícia completa: Gara