Os debates tiveram lugar na parte da manhã nos cinemas Carlos III, de Iruñea [Pamplona], e os cerca de cem participantes repartiram-se por dois foros: um sobre a Universidade Basca e outro sobre iniciativas e experiências que se estão a desenvolver no território histórico de Zuberoa. Joseba Garmendia, Erik Etxart, Marie Claire Lurgorri e Tasio Erkizia foram os oradores responsáveis por dar a conhecer um pouco mais da situação que se vive neste herrialde de Ipar Euskal Herria [País Basco Norte], abordando questões como a campanha «Biba Xiberua» (impulsionada pela Udalbiltza em 2001 e 2002), que procura fazer frente ao despovoamento (o território tem cerca de 12 000 habitantes), ao envelhecimento da população e ao fechamento de empresas; também pela positiva, realçou-se o incremento das relações comerciais entre Zuberoa e os demais herrialdes bascos, assim como a elaboração de um DVD “para que os outros territórios de Euskal Herria conheçam a realidade de Zuberoa”; por último, deu-se a conhecer a dinâmica de apoio à quinta rural Kako, situada na localidade de Añarbe, e como uma associação cujo objectivo é ajudar os jovens a fixarem-se no meio rural (tendo, para tal, comprado já uma dúzia de quintas) tudo está a fazer para que os jovens da zona de Añarbe consigam comprar a Kako. Mas no debate de Iruñea nem só de Zuberoa se falou, e um dos participantes, ex-pescador e actual sindicalista do LAB, fez questão de expor a “grave situação” que atravessa o sector pesqueiro basco, com os actuais 2000 pescadores e a perda de três quartos da frota pesqueira a contrastarem com os 10 000 pescadores que havia nos anos 70 e “a grande riqueza que geravam nas povoações da costa”.
“Direito a decidir sem exclusões territoriais”
Da parte da tarde houve uma manifestação, que juntou cerca de 1500 pessoas, por volta das 17h30, junto aos cinemas Golem, e que terminaria cerca de uma hora depois no Sarasate Pasealekua. Vigiada a todo o momento pela polícia espanhola, a marcha teve à cabeça uma enorme ikurriña, levada por dantzaris, e uma faixa em que se podia ler o lema principal, que foi entoado ao longo de todo o percurso: «Nazioa gara. Zazpiak bat. Burujabetzaren alde» [Somos uma nação. Os sete, uma. Pela soberania], juntamente com gritos a favor da independência e “Alde hemendik, utzi pakean” [Vão-se embora, deixem-nos em paz], sobretudo quando os agentes da polícia espanhola se colocaram em ambos os lados da manifestação, junto à sede do PSN. Entre os participantes, era também notória a presença de ikurriñas e bandeiras de Nafarroa. No final da marcha anunciou-se que a diáspora basca de Buenos Aires também celebrava uma jornada relacionada com a iniciativa «Nazio Plaza», impulsionada pelo Foro de Debate Nacional da Argentina e do Uruguai, Euskaltzaleak e Eusko Kultur Etxea. Os debates dessa jornada centraram-se na territorialidade, o euskara e a autodeterminação.
Em Iruñea, Aitziber Sarasola recordou, em nome do movimento popular, que Euskal Herria continua territorialmente dividida, e fez um apelo para que “se pense e actue como nação”, de modo a superar essa divisão.
Por seu lado, Maite Aristegi constatou que nestes momentos “está em jogo a direcção da mudança” que se avizinha, e que existem duas opções: “A mudança baseada no reconhecimento de Euskal Herria como nação e na atribuição ao povo basco do direito à autodeterminação, ou, mediante meras reformas, manter o status político à mercê dos estados espanhol e francês, negando que somos uma nação e negando a nossa territorialidade e o direito a decidir o nosso futuro”. Depois de insistir na necessidade de “uma mudança para a solução democrática do conflito e para o desenvolvimento de Euskal Herria como nação”, Maite Aristegi destacou a importância de “juntar todas as forças possíveis” para “dar impulso a uma estratégia como nação”. Assim, afirmou: “nós somos o motor da mudança”; “o presente e o futuro de Euskal Herria estão aqui, não estão nem em Madrid nem em Paris”.
Mesmo antes do encerramento do comício, com mais gritos a favor da independência e o hino de Nafarroa a ser tocado por um par de txistularis, Maite Aristegi transmitiu uma mensagem em nome do Nazio Eztabaida Gunea [Foro de Debate Nacional]: “Exigimos uma mudança baseada no reconhecimento de Euskal Herria, porque somos uma nação. Uma mudança em que todos os direitos colectivos e individuais sejam reconhecidos e garantidos. Uma mudança baseada na territorialidade do nosso povo, que dê a palavra e a decisão ao conjunto da sociedade. O direito a decidir é um direito que corresponde a toda a cidadania de Euskal Herria, sem exclusões territoriais”.
Fonte: Gara